sábado, 29 de dezembro de 2007

Mais 4 dias...

para a folga de Ano Novo. A partir da semana que vem, o resto da picotada história do Rush em Toronto.

quarta-feira, 26 de dezembro de 2007

Tuvucanadá - Rush, Parte 4

Após dormir morrendo de ansiedade para ver o Rush de verdade pela segunda vez, acordei no sábado e corri para o hotel onde o encontro aconteceria (e onde a maioria dos fãs dos Estados Unidos e outros lugares do Canadá estavam hospedados). Era um hotel da rede Days Inn e ficava na Carlton Street, mesma rua da sede da gravadora do Rush (Anthem SRO) e do ginásio Maple Leaf Gardens (no qual o trio gravou o vídeo Grace Under Pressure Live).

Cheguei lá, ainda não tinha começado nada. Fiquei olhando um pouco o merch da banda, comprei o tourbook da Snakes and Arrows Tour (e quase levei um livraço com todos os tourbooks da banda até a turnê de 30 anos, que custava uns 150 dólares canadenses). Também levei a linda camiseta vermelha da tour e ganhei um monte de tranqueira que sobrou como souvenir das Rushcons anteriores, desde uma camiseta até um apoiador de sabonete com referências à banda.

Paguei minha entrada para a Rushcon e procurei o Sam Dunn, que estava entrevistando um pessoal do Japão. Depois, me chamou para a gente conversar. Eu, que acabei de produzir ao lado de três colegas um documentário sobre o Tom Zé (que em breve estará no YouTube), como trabalho de conclusão de jornalismo, gostei de passar de entrevistador para entrevistado. Entrevistador em português para entrevistado em inglês.

O Sam fez algumas perguntas genéricas ("há quanto tempo você gosta da banda?", "por que eles são tão especiais", etc) e outras mais legais, tentando entender a relação de paixão entre um trio de músicos canadenses, de certa forma frios e discretos, e os brasileiros, que de frieza não têm nada. Expressei a minha opinião, de que nós admiramos os caras justamente pela dedicação, determinação e sensibilidade em cada trabalho que lançam. Trabalhos esses que não podem sair de ano em ano; as coisas podem demorar (como Vapor Trails, que levou mais de um ano para ficar pronto, mas saiu ótimo e contemporâneo, do jeito que manda o perfeccionismo da banda).

Bom, já disse que assisti ao outro documentário do Sam Dunn (Metal: A Headbanger`s Journey), e acredito que esse sobre os fãs do Rush, que deve ficar pronto em 2009, vai ser maravilhoso. O cara é canadense também, cresceu ouvindo Rock 'n' Roll e heavy metal e entende do assunto. Ao mesmo tempo, mantém um certo distanciamento da 'tietagem' que existe no meio, o que sem dúvida ajuda em muito o trabalho de um bom jornalista.


Depois da entrevista, fui até o saguão onde estavam expostas algumas peças legais que seriam leiloadas no dia seguinte e tirei algumas fotos. Depois, começou a rolar competição do jogo Guitar Hero, onde todo mundo tinha que se matar para não errar nenhuma nota de YYZ. Apesar de ficar de fora (os únicos games que eu gosto são do finado SuperNes), me diverti assistindo aquele povo levando o jogo a sério, como se Lee, Lifeson e Peart estivessem presentes para ver a performance de cada um. Lembro que o cara que ganhou o concurso do 'Air Drums', na noite anterior, também jogou o Guitar Hero.


Depois disso, a organização montou o The Game of Snakes and Arrows, onde três participantes tinham que acertar perguntas sobre a banda. Cada resposta certa ajudava a desvendar uma imagem ao fundo da tela onde as questões eram lidas. No final, essa imagem era um pé-de-coelho e estava relacionada ao tourbook do Presto. Dos três concorrentes, sei que o vencedor ganhou um ingresso foda para o show que aconteceria em algumas horas, em uma cadeira central na terceira fileira, salvo engano.

O público lá era o mesmo do show do Limelight na sexta-feira, mas rolava um pessoal ainda mais velho que não teve pique de ver a banda cover. Todo mundo estava ansioso para chegar no Air Canada Centre; Lee, Lifeson e Peart entrariam no palco às 19h. Rolava um busão (daqueles escolares, amarelos) até o ACC, sem custo para aqueles que participavam da Rushcon.

Fiquei numa lanhouse um tempinho, comi num Subway, comprei uma caneta para anotar o set-list e algumas observações que me ajudariam a escrever o review e rumei para o ônibus com o resto do pessoal.

O resto, que inclui o show em si, eu conto amanhã.

Veja aqui as outras cinco partes da jornada:

Tuvucanadá - Rush, Parte Final

Tuvucanadá - Rush, Parte 5 (o show)

Tuvucanadá - Rush, Parte 3

Tuvucanadá - Rush, Parte 2

Tuvucanadá - Rush, Parte 1 (review)

segunda-feira, 24 de dezembro de 2007

Tuvucanadá - Rush, Parte 3

Vamos em frente com o monte de história sobre os shows do Rush em Toronto, no último mês de setembro.

Após descobrir a existência da Rushcon, que reuniria fãs da banda de todos os lugares da América do Norte, um ou outro europeu, japonês ou brasileiro (eu, no caso), rumei para lá. Na programação, a primeira atração seria um show da banda Limelight na sexta-feira (21 de setembro), no Opera House (um pub/muquifo ao lado sudeste de Toronto).

Cheguei lá quando já tinha começado, e uma moça da organização veio me perguntar de onde eu era. Quando contei sobre minha procedência, ela disse "acho que o Sam irá querer falar com você". Sam era Sam Dunn, diretor do documentário Metal: A Headbanger`s Journey, que até saiu no Brasil pela Europa Filmes, há algum tempo.

O Sam, com uma cara típica de metaleiro canadense em seus early 3o's, foi extremamente simpático e contou que tinha vindo para o Brasil por causa desse documentário sobre os headbangers (que eu assisti já e é muito divertido, além de informativo; a capa está aqui ao lado). Ele explicou que seu novo projeto era um documentário sobre os fãs do Rush, que provavelmente estará pronto em 2009. Perguntou se poderia me entrevistar, no dia seguinte, e eu disse "claro!".

Fui então, ver a banda, que ainda não tinha começado. Estava rolando um concurso de Air Drums, com um monte de marmanjão fingindo tocar YYZ no palco. Esses tais concursos de Air Guitars e Air Drums nunca foram muito populares por aqui (ainda bem), mas faz parte da cultura metaleira da América do Norte. Fui tomar uma cerveja canadense, forte e de gosto razoável, para esperar o Limelight subir ao palco.

Como um forasteiro, fiquei checando a galera. A grande maioria do pessoal tinha entre 35 e 45 anos, fãs há bastante tempo. Alguns tinham entre 20 e 30, mas eram mais escassos. O que se via mesmo era muitos "casais-Rush", daqueles que deixam a família inteira fanática pela banda. Fiquei lá de zoio até o show começar.

O Limelight entrou e mostrou uma formação bem sólida. Os caras eram de Nova York, e o vocalista, que parecia mais o Ripper Owens, ex-Judas, trajava uma camisa do NY Rangers, time de hóquei e grande rival do Toronto Maple Leafs, heróis locais mas que nunca ganham a NHL. O Air Canada Centre, ginásio do Maple Leafs, seria palco do show do Rush no dia seguinte.

Voltando ao Limelight, os caras fizeram um ótimo show, com destaque maior para o baixista/tecladista, que agitava bastante e tocava bem pesado. O legal foi que eles desenterraram algumas pérolas dos primeiros discos, como Beneath, Between and Behind, In the End e até mesmo Under the Shadow, que faz parte da longa The Necromancer. Outra grande idéia foi tocar o Moving Pictures inteiro e evitar as músicas que estão no set-list atual do Rush.

Uma constatação: nunca vi uma banda tributo do Rush só com três integrantes, e isso não foi exceção com o Limelight, que conta com quatro membros. Acho que isso mostra como os caras são únicos em seus instrumentos, sem esquecer da parafernália de samplers e pedais utilizados. Outra constatação foi: o melhor de assistir a uma banda cover lá de cima é de que o inglês é a língua nativa dos caras. É uma vantagem que não se pode ignorar sobre as bandas brasileiras, que sofrem também com as palavras complicadas das letras de Neil Peart. Mas alguns se dedicam bastante e essa característica acaba ficando quase que imperceptível.

De resto, tudo igual sempre: um monte de música fera, galera gritando empolgada, intervalo, mais um monte de música fera, uns três bis e depois pegar o bonde e o metrô para ir para casa. Conversei com poucas pessoas lá, mas deixei o contato marcado com o Sam Dunn para dar a entrevista no sábado, algumas horas antes do show, no hotel onde rolaria a Rushcon.

Para finalizar o post, duas fotos: a primeira é do palco, com a banda e algumas das cerca de 60 pessoas que foram ver o Limelight.



A segunda é uma imagem que eu peguei no site da banda, em que eu apareço com uma camiseta preta, o peito e a barriga pra frente e uma cerveja na mão, vendo os caras se apresentarem. O crédito da foto é de uma tal de Kristy Williams.

Agora sim, até amanhà e um Feliz Natal para toda sua família.


Veja aqui as outras cinco partes da jornada:

Tuvucanadá - Rush, Parte Final

Tuvucanadá - Rush, Parte 5 (o show)

Tuvucanadá - Rush, Parte 4

Tuvucanadá - Rush, Parte 2

Tuvucanadá - Rush, Parte 1 (review)

Tuvucanadá - Rush, Parte 2

Voltando agora à normalidade, começarei a contar um pouco da jornada para ver o Rush em Toronto. Primeiro, cheguei na maior cidade canadense cerca de 10 dias antes da apresentação, que seria no dia 22 de setembro de 2007, um sábado. A quarta-feira (19) estava reservada para o primeiro show.

Neste dia, eu estava morrendo de vontade de comprar um ingresso e assistir também àquela apresentação. Me segurei porque não podia ficar gastando tanta grana, mas resolvi visitar a CN Tower, uma das mais altas estruturas do mundo e talvez o principal cartão-postal da metrópole canadense.

A caminho, resolvi parar em um pub, tomar uma cerveja e comer um lanche. Eram mais ou menos 18h, e os caras entrariam no palco em duas horas. Já bem perto da CN Tower, parei no boteco e pedi um sanduíche. Na mesa do lado, vi que tinham três caras com camisetas da banda e falando sobre o que estavam prestes à assistir. Um deles me perguntou se eu tinha um isqueiro, respondi que não mas soltei "e vocês, estão indo ver o Rush?".

Após o "sim", me devolveram a questão e eu expliquei que só veria Lee, Lifeson e Peart no sábado. Ficaram fascinados quando eu contei que era brasileiro e tinha ido em um show da turnê do Vapor Trails em 2002. Não aquele do Rush in Rio, mas o de São Paulo, que choveu horrores e se tornou o maior público da banda em toda sua história como headliners (cerca de 60 mil pessoas vieram ao Morumbi).

Mostrei algumas revistas que eu tinha comprado da banda (uma Kerrang! de 1984, da época do lançamento do Grace Under Pressure). Os caras acharam o máximo todo aquele fanatismo e tentavam entender o porquê de um brasileiro se identificar tanto com o trio. Expliquei que bom gosto e admiração pelos que buscam sempre a perfeição existem no mundo inteiro.

Também houve aquela indagação típica dos canadenses (como eu constataria depois), do tipo "nossa, mas por que vocês fazem tanto barulho? Cantam até YYZ, que é instrumental!". Eles perguntavam até com uma certa inveja e se justificavam: "nós canadenses somos mais discretos, não vibramos tanto como vocês". Recordei-os de que, em 2002, estávamos vendo o Rush pela primeira vez, depois de tanto tempo esperando. A empolgação era realmente única, o que fica bem claro no DVD do Rush in Rio. Mas, no final das contas, brasileiro gosta mesmo é de fazer festa. E ser parte do show. Seja no esporte ou no Rock `n` Roll, o que importa é cantar e gritar o mais alto possível.

Eram dois caras mais velhos, na faixa dos 40 anos, e o filho de um deles, de 13, que assistiria ao seu primeiro show do grupo e estava ansioso. Lembro que eles me disseram que tinham visto o Rush pela primeira vez na época do Signals (1982) e iriam ao seu vigésimo e tanto show, pois já tinham perdido a conta. Me despedi de todo mundo e fui lá para a CN Tower, morrendo de vontade de rumar ao Air Canada Centre e gastar mais uns 90 dólares.

Acabei indo mesmo para a CN Tower, pertinho do ACC, tirei umas fotos lá de cima (uma delas postada aqui, que mostra o local do show a uma altura de 346 metros). Saindo de lá, passei no ACC e vi um folheto divulgando a Rushcon 7, encontro de fãs que começaria na sexta-feira com um show de uma banda cover do Rush em um muquifo lá de Toronto.

E foi lá que a jornada continuou.




Veja aqui as outras cinco partes da jornada:

Tuvucanadá - Rush, Parte Final

Tuvucanadá - Rush, Parte 5 (o show)

Tuvucanadá - Rush, Parte 4

Tuvucanadá - Rush, Parte 3

Tuvucanadá - Rush, Parte 1 (review)

Após o descanso de 10 dias...

...estamos de volta. Junto com esse belo cenário do interior paulista, em um amanhecer às margens da represa do Tietê, onde ele é bem mais limpo e apresentável.

E agora, de volta à maratona Rush.

sexta-feira, 14 de dezembro de 2007

Tuvucanadá - Rush, Parte 1 (review)

Logo na minha segunda semana em Toronto, lá estava eu para ver a banda que eu acho mais talentosa, criativa e coesa (resumindo: minha favorita) banda do Rock 'n' Roll: o Rush.

Quando já tinha decidido estudar um tempo em Toronto, mas antes de fechar a viagem, descobri que Geddy Lee, Alex Lifeson e Neil Peart tocariam em sua cidade-natal nos dias 19 e 22 de setembro para a turnê de divulgação de seu novo disco, Snakes and Arrows. Pensei: vou nessa.

Seria meu segundo show do Rush. O primeiro foi em São Paulo, na turnê do Vapor Trails em 22 de setembro de 2002. Aliás, foi no estádio do Morumbi, naquela noite chuvosa, que minha admiração pelo trio torontoniano virou paixão.

Um dia explico porque o Rush é a minha banda preferida. Mas voltando à história, comprei o ingresso pela internet para o show do dia 22 e tentei convencer alguma revista brasileira a publicar um texto meu sobre o evento. A Rock Brigade aceitou (está na edição de novembro, ao lado do meu review sobre a reunião do Van Halen com David Lee Roth, cuja história eu conto mais para frente).

No dia 19, estava perto do Air Canada Centre, onde seria a apresentação, e passei pela frente do local. Lá, descobri que na sexta-feira, um dia antes do show que eu iria, o fã-clube da banda estava divulgando o Rushcon 7, uma reunião de aficionados do Rush que começava no sábado e terminava no domingo.

Contarei em detalhes como foi esse fim-de-semana rushento de festas, leilões, entrevista para documentário e muito Rock 'n' Roll, nos próximos dias. Por enquanto, fiquem com o review que eu escrevi sobre o show e umas fotos tiradas pelo japonês Seiji Harada (que eu conheci na Rushcon e me cedeu gentilmente as figuras, que também foram para a revista). Eu estava em um lugar péssimo, por isso as minhas fotos não foram muito aproveitáveis.


Rush – Air Canada Centre, Toronto – 22/09/07

Por Marcelo Freire

Depois de assistir à turnê do Rush no Brasil, em 2002, que rendeu o histórico DVD “Rush in Rio”, presenciar o trio canadense em sua cidade natal para a promoção do disco “Snakes and Arrows” é uma experiência certamente diferente. O Air Canada Centre, palco de jogos de hóquei e da NBA, estava praticamente lotado para ver o segundo show do Rush em Toronto nessa turnê (a primeira apresentação foi na quarta-feira, 19), com um set-list que prometia muitas surpresas.


Um vídeo descontraído, contando com brincadeiras entre os integrantes da banda, esquentou o ambiente até que as primeiras notas da clássica Limelight fossem ouvidas no ginásio. O trio mostrava a coesão de sempre logo na música de abertura, enquanto que o público canadense, como já era esperado, assistiam a Lee, Lifeson e Peart com tranqüilidade, sem os gritos e a histeria dos shows em terras brasileiras. Mesmo assim, os mais de 30 mil pagantes não tiravam os olhos dos três instrumentistas em nenhum momento.

As duas músicas seguintes confirmavam a promessa da banda em executar canções que estavam fora do set-list das turnês há bastante tempo. Digital Man e Entre Nous, ambas do início da década de 1980, surpreenderam todos os presentes, principalmente aqueles que acompanham as apresentações do Rush desde essa época.

Geddy Lee saúda seus contêrraneos antes da pérola Mission, outra que estava ‘sumida’ dos shows. Após o clássico Freewill, Lee, Lifeson e Peart iniciam a execução de músicas mais recentes, como A Secret Touch, de “Vapor Trails”(2002) e duas do novo disco, a instrumental The Main Monkey Business e The Larger Bowl, cujo vídeo exibido no telão fez diversas referências aos combates e às guerras em diversas partes do mundo.

Circumstances, de 1978, foi talvez a maior de todas as surpresas, pois é da época mais progressiva do Rush, durante o disco “Hemispheres”. E é curioso ver como Geddy Lee se comporta durante a execução da canção, que tem notas altas demais para o vocalista nos dias de hoje. Mesmo assim, ele não arrega, sabendo de suas limitações nas notas mais altas e se poupando nas melodias mais tranqüilas. Between the Wheels e Dreamline encerram a primeira parte do show, antes dos tradicionais 20 minutos de descanso para Lee, Lifeson e Peart.

No aspecto instrumental, é praticamente desnecessário mencionar a habilidade de cada um. A precisão de Neil, a versatilidade de Geddy e a criatividade de Alex, aliadas à capacidade e ao conhecimento técnico de cada um, é sempre um show à parte. Alguns overdubs de teclado e voz são necessários, mas o resto fica a cargo pelos três no palco. Quanto à interação com a platéia, Alex é o que mais se movimenta, já que Geddy fica com o espaço mais limitado como vocalista, baixista e tecladista, sem deixar de se comunicar com a platéia, no entanto. Mesmo demonstrando 100% de concentração durante todo o tempo, Neil Peart também está mais descontraído, principalmente em relação à epoca de “Vapor Trails”, quando ainda se recuperava de uma grande tragédia pessoal após a morte da esposa e da filha em um espaço de apenas 10 meses, no final da década de 1990.



Em meio a explosões, o Rush volta ao palco para a segunda metade do show detonando Far Cry, canção que abre “Snakes and Arrows” e que é muito bem recebida pela platéia, contendo todos os requisitos para se tornar um clássico da banda em sua fase mais recente, principalmente por causa de seu refrão contagiante. Workin’ Them Angels, Armor and Sword, Spindrift e The Way the Wind Blows vêm em seguida, dando uma certa esfriada no público. Mesmo assim, todas funcionam melhor ao vivo do que em estúdio, como normalmente acontece com as canções do Rush.

A clássica Subdivisions, cujo videoclipe gravado em 1982 exibe diversas imagens de Toronto, volta a levantar o público, registrado pelo próprio Geddy Lee, que pega uma câmera e filma a platéia ao final da música. Depois de Natural Science, a música mais longa do set-list, vem outro ‘resgate’, dessa vez de “Moving Pictures”(1981): Witch Hunt, muito bem ensaiada e deixando parte do público emocionado com uma das mais belas letras já escritas por Neil Peart. As imagens no telão, produzidas pela banda, também se relacionam com a canção.

“Snakes and Arrows” volta a ter espaco no set, desta vez com a instrumental Malignant Narcissism, composta durante uma jam entre Lee e Peart e marcada por uma excelente e repetitiva frase de baixo. Logo em seguida, Neil toma a frente e inicia seu concerto particular. Não se contenta apenas em demonstrar a habilidade que o transformou em um dos maiores bateristas de todos os tempos, mas também inova seu solo a cada turnê, trazendo novos elementos e reinventando passagens já conhecidas em outros discos ao vivo da banda. Como aconteceu nas duas últimas turnês, Neil encerra sua apresentação improvisando ao som de um tema jazz, como baterista de uma ‘big band’ dos anos 50.

Ao contrário da versao acústica de Resist, tocada nos últimos anos como ‘descanso’ para Peart após o solo de bateria, Alex Lifeson volta ao palco para apresentar seu belo tema de violão, chamado Hope, também presente em “Snakes and Arrows”. Distant Early Warning traz a banda de volta e abre espaco para The Spirit of Radio, sempre levantando a platéia com a mistura de elementos pop/reggae com a complexidade rítmica da canção, um dos maiores hits da história do Rush, ainda mais em sua terra natal.

Outro vídeo muito engraçado, desta vez com os personagens do desenho South Park tocando o início de Tom Sawyer, aparece no telão. Após ‘falharem’ na primeira tentativa, as ‘crianças’ do desenho abrem nova contagem e desta vez é a banda que executa a música, sempre com maestria. Alguns deixam o Air Canada Centre e perdem o bis, que começa, surpreendentemente, com One Little Victory e A Passage to Bangkoc. Esta é praticamente uma viagem no tempo, já que a primeira canção abre “Vapor Trails” e a segunda é a mais antiga do show, tendo sido gravada em 1976, adaptada ao estilo da banda nos dias atuais.

A terceira instrumental da noite encerra o espetáculo: YYZ, demonstrando o quanto Lee, Lifeson e Peart, ainda têm para entregar ao rock`n`roll após 33 anos juntos. O grupo ainda deixa sua mensagem ao tocar muitas músicas novas, além das antigas que ‘desapareceram’ dos shows nos últimos 20 anos. Os fãs que lotaram o Air Canada Centre nas duas noites saíram deslumbrados com mais essa passagem do Rush por sua cidade natal. Falta saber se os boatos ouvidos aqui em Toronto, de que o trio planeja uma passagem pela América do Sul no ano que vem, com uma parada obrigatória no Brasil, se confirmem. Os brasileiros não se decepcionarão.


Veja aqui as outras cinco partes da jornada:

Tuvucanadá - Rush, Parte Final

Tuvucanadá - Rush, Parte 5 (o show)

Tuvucanadá - Rush, Parte 4

Tuvucanadá - Rush, Parte 3

Tuvucanadá - Rush, Parte 2

Tuvucanadá - Introdução

Para começar a série de posts canadenses, aqui vai uma breve introdução sobre o que eu fui fazer nesse país frio, grande e com uma gigante área praticamente desabitada.

Depois de terminar o freela para a Folha, durante o Pan carioca, e já formado, resolvi encarar um desafio novo. Dinheiro guardado, planejei a viagem. Fui estudar inglês, por seis semanas, na International Language Schools of Canada (ILSC) de Toronto. Deixei duas semanas para conhecer o estado de Québec, ao norte de Ontario, também conhecido como French Canada.

Desembarquei em Toronto, após sair de São Paulo e trocar de vôo em Miami, no dia 12 de setembro (sim, saí daqui no dia 11, a data mais segura do ano para viajar de avião). Conheci uma brasileira cujo amigo canadense que também fala português e trabalhou para a Veja aqui no Brasil (ufa!) me deu carona até minha homestay, onde ficaria pelas seis semanas em Toronto.

Chegando lá, conheci a pessoa que me daria comida e quarto durante esse tempo. Lloyd, um senhor de 70 anos formado em filosofia, artes cênicas, ex-diretor e ainda ator de teatro, me recebeu com extrema simpatia. Pareceu até brasileiro. No meu quarto, ele estendeu uma bandeira do país para que eu me sentisse em casa. Nunca me liguei em patriotismos nem nada, mas aquela bandeira do Brasil na parede me trouxe um inesperado conforto.

De um senhor de 70 anos, Lloyd não tinha nada. Vivido (foi professor em Nova York nos turbulentos anos 1960), ele tinha história demais para contar, sobre atores, diretores, podres de Hollywood e até sociologia. Resmungava bastante, o que acabou sendo um ponto semelhante entre ele e eu.

Ao Lloyd dedico este post introdutório.



quarta-feira, 12 de dezembro de 2007

O país do previsível

Choveu. E minha gripe piorou. Só aqui mesmo para pegar gripe durante o calor dos últimos dias. Mas ainda bem que choveu, porque eu não estava mais conseguindo nem dormir.

É engraçado como eu não fiquei gripado em dois meses no Canadá, pegando temperaturas de até -2 graus Celsius. Aqui, em menos de um mês, lá vem eu resfriado de novo. Que saco.

Mas o Brasil é o país do imprevisível. Aqui, tudo acontece de forma inesperada. Como essas viradas no tempo na capital paulista, tão comuns em qualquer época do ano. De repente, vem aquele calor de fritar novamente. Potencializado pela nossa 'Selva de Pedra'.

Como já disse, não peguei nenhum resfriado nos dois meses canadenses. Aquele país é bem mais previsível. A meteorologia sempre acerta. Mesmo assim, setembro de 2007 foi um dos setembros mais quentes em não sei quantos anos. Outubro também não fez o frio esperado. E o dólar canadense teve sua maior alta em cerca de 30 anos nessa mesma época. Ficou mais caro que o dólar americano. Ruim para mim.

Com essa singela introdução, abro a "Jornada Canadense" deste blog. O próximo post será dedicado ao show do Rush em 22/09, no Air Canada Centre, acompanhado do meu review que a Rock Brigade publicou (cortando um pedaço do final) em sua edição de novembro.

Até daqui a pouco.

De volta aos 14


Comprado. Tarefa cumprida. Agora é esperar nada mais nada menos do que três longos meses. Vou tentar arranjar lugar melhor, mas o meu já está garantido.

Depois de tanto tempo, o Iron Maiden ainda me surpreende. Comprei um tíquete do que restou de todos os setores do Parque Antártica: arquibancada. Inteira, porque para estudante também não tem mais. Nesta quarta, se completa uma semana do início da venda de ingressos. E já tá quase tudo esgotado.
Tudo bem, tem um monte na mão dos cambistas, que estão trabalhando lá na frente do estádio palmeirense, livres como sempre. Enquanto a lei continuar 'nenhuma', eles estarão sempre lá.

Mas vamos ao que interessa. Vi o Iron Maiden pela primeira vez em 1998, quando tinha 14 anos. Para comprar ingresso, fui à sede da Umes, na Ana Rosa, atrás de meia entrada. Consegui, e no Anhembi só tinha pista. Melhor assim.

O show foi dia 5/12/98, salvo engano. No dia seguinte, azarados fariam o vestibular da Fuvest. Blaze Bailey, o antigo vocalista, nunca foi lá essas coisas ao vivo. Mas para um moleque de 14 anos, ver a maior banda de metal do mundo já era o bastante. Também lembro que a chuva em SP foi histórica e durou uns três dias. Na apresentação do Helloween, não dava nem pra ver direito a banda no palco.

Pouco tempo depois, Blaze saiu, Bruce Dickinson e o guitarrista Adrian Smith voltaram (deixando a banda com três guitarristas e seis integrantes, o que prejudicou o som deles ao vivo, na minha opinião), e eles escalaram de volta ao topo. Gravaram o bom Brave New World (2000) e vieram ao Rock in Rio no ano seguinte.

Deu raiva. Nessa mesma turnê com o Blaze, em 1998, lembro que o guitarrista Janick Gers recebeu uma lata na cabeça durante o show no Rio de Janeiro. Em protesto, a banda nem voltou para o bis. E eles cancelaram o show em São Paulo, dois anos depois, para tocar de forma exclusiva no Rio de Janeiro. Quanta petulância!

Coisas de moleque. Não fui ao Rock in Rio, o que me arrependo até hoje, por motivos de força maior. Inexperiência e insegurança, diria. Passou. Hoje vejo esse show em DVD. Foi o que me restou.

Em 2004, vi finalmente a banda ao vivo com o Bruce. E me decepcionei, de certa forma. Um show bem mais curto do que o do Rock in Rio, com poucos clássicos e muitas músicas do mediano Dance of Death (de 2003). Mas com certeza valeu a pena. Sempre vale.

Agora, os caras vêm para tocar só música velha, aparentemente, com uma ou outra nova. Set-list baseado nos discos Powerslave (1984), Somewhere in Time (1986) e Seventh Son of a Seventh Son (1988), uma das tríades mais poderosas na história do rock. Esperaremos com ansiedade.

Ao contrário de muitos, fico feliz em ver a molecada empolgada em assistir ao primeiro show do Iron Maiden, esperando horas (e até dias) na fila para pegar lugar na grade. Faz parte do ritual. Que fiquem feliz, nos seus 14 anos. Muitos ainda virão pela frente.

Pena que não podemos dizer isso com tanta certeza no que diz respeito aos shows do Iron Maiden. É melhor aproveitarmos enquanto ainda dá para ver esses caras ao vivo. Sempre vale a pena.

Com justiça e mérito, bom dia Série B!

O outro fato que eu citei no post abaixo, e que também me deixou abalado (bem menos do que a morte de Rafael Sperafico), alegrou cerca de 60% do Estado de SP: a queda do Corinthians para a Série B do Brasileiro. Sim, sou corinthiano, ainda. E acredito que o rebaixamento foi merecido, previsível e, de certa forma, redentor. Parece que esse é o único jeito de salvar essa instituição: caindo até o fundo do poço para tentar renascer das cinzas.

Falta saber onde é o fundo do poço para o clube com o estranho Andrés Sanchez agora na presidência: se for a Série B mesmo, que volte para a divisão principal quando o time fazer por merecer. Com Mano Menezes, as chances aumentam; com o time que estão querendo montar, elas diminuem. Torcida não vai faltar. 2008 tem tudo para ser o ano do Corinthians, pelo menos para nós, torcedores. Quem sabe uma diretoria digna não limpe logo a sujeira feita pelos diretores antigos (muitos que ainda permanecem por lá, como o próprio Sanchez).

Aliás, espero que também que os conselheiros percebam que segurar o clube Sport Club Corinthians Paulista por meio do time de futebol é inviável. O dinheiro ganho entra para as piscinas, que não dão retorno financeiro. Se querem salvar o time, que reformulem o modo de ganhar dinheiro com o clube. As coisas mudaram muito de 15 anos para cá: falta a velharada corinthiana perceber isso.

O desafio agora é diferente. Se a atitude também mudar, esse gigante pode renascer para fazer festa em seu centenário, que acontece em 2010. Será o primeiro dos quatro paulistas que já foram campeões brasileiros (e até mundiais, dependendo da interpretação e do coração) a fazer 100 aninhos. Para o bem dos outros 3o e tanto por cento, que seja na Série A, e de preferência com boas campanhas.

Mas vamos fazer festa no purgatório. É o que nos resta no momento. Bom dia Série B!

terça-feira, 11 de dezembro de 2007

A curva final de Interlagos

Antes de começar com as histórias sobre a viagem para o Canadá, falemos um pouco sobre o que aconteceu aqui recentemente, agora que nós estamos cada vez mais perto de 2008. Duas notícias me atingiram profundamente nas últimas semanas, por motivos diferentes. A primeira delas, muito mais grave, é a morte do piloto Rafael Sperafico na prova da Stock Car Light, neste último domingo (9). A outra deixarei para daqui a pouco.

O acidente foi um dos mais chocantes que eu já vi, acompanhando automobilismo desde 1991. Mesmo que tenha havido um toque por trás de outro piloto, com a tal da barreira de pneus em posição indevida e com a deficiente proteção dos carros da Stock, acredito que as circunstâncias foram as mais desfavoráveis possíveis.

Sperafico é atingido pelo de Renato Russo na lateral, justamente no ponto mais frágil do carro. Com uma batida daquelas proporções, seria realmente um milagre se o paranense saísse vivo, mesmo se estivesse correndo em outra categoria de turismo, como a Nascar, que já tirou a vida de grandes campeões como Dale Earnhardt, heptacampeão na categoria norte-americana, morto em Daytona no ano de 2001 (em um acidente menos chocante, visualmente falando).

De qualquer forma, espero que o que aconteceu seja estudado para que a Vicar e a Confederação Brasileira de Automobilismo melhorem a segurança da categoria, assim como do circuito de Interlagos e seus pneus na curva do Café. Não entrarei em detalhes sobre a desgraça de administração que a CBA faz por aqui. Não é o momento. Um dia dedicarei um tempo para falar sobre este (chatíssimo) assunto.

Minhas condolências à família Sperafico, uma das que mais respira automobilismo neste país, assim como aos amigos do Grande Prêmio (Victor Martins descreveu de forma emocionante neste texto a reação dos que estavam lá) e da imprensa que trabalhou neste triste episódio e que, logicamente, ficou profundamente abalada ao cobrir o trágico fim de Rafael.

Agora, bola para frente galera.

Crédito da foto: Vanderley Soares
Ao som de Afterimage, do Rush, por acaso

Assim nasce um blog

Um blog nasce da vontade de escrever. Da necessidade de emitir sua opinião ou contar histórias em seu veículo próprio. Sem censuras, sem meias palavras. Publicar o que julgar primordial.

Com esse pensamento, sou mais um jovem jornalista que se rende à essa maravilhosa tecnologia, que já existe há algum tempo. Sempre soube que desenvolveria um desses, mas somente quando tivesse realmente o que falar. A coisa mais chata do mundo são os blogs que ficam dias (até meses) sem atualizações. Prometo que me policiarei para que esse tipo de coisa não aconteça, mesmo que esteja sempre na correria.

Gostaria de acrescentar mais três coisas nesse post inicial. A primeira é a minha apresentação. Meu nome é Marcelo Freire, tenho 23 anos, canceriano, e sou jornalista formado pela Universidade Mackenzie. Ainda estou dando meus primeiros passos na profissão, mas já fiz estágios na Secretaria da Segurança Pública de São Paulo (onde trabalhei por um ano fazendo assessoria para a Polícia Científica, cujo website ajudei a desenvolver), no Grande Prêmio (onde reacendeu minha paixão pelo automobilismo), no Terra e na Folha Online (onde fui free-lancer por um mês em Esportes, cobrindo o Pan do Rio). Com o tempo, contarei algumas histórias de cada lugar. Last, but not least, sou paulistano de nascimento e ainda não abandonei minha cidade, apesar de ela respirar por aparelhos já há algum tempo.

Segundo, falarei um pouco do que será postado aqui. Escuto Rock `n` Roll desde sempre e esse assunto será o principal no Blog do Tuvuca. Mas não o único: cinema, automobilismo, esportes em geral e qualquer assunto que mereça um post (ou não) também serão abordados. Para começar, contarei um pouco da viagem que fiz pelo Canadá em setembro/outubro/novembro de 2007. Rush, autódromos de Montréal e Mont-Tremblant, Van Halen e cultura canadense dominarão os tópicos nessas primeiras semanas.

Por último, quero falar um pouco sobre os visitantes desse blog. Não sou conhecido e nem renomado, por isso não espero que um grande número de pessoas acompanhem o que acontece aqui. Mas espero que quem acesse o Blog do Tuvuca o ache interessante. E, para aqueles que amam o Rock `n` Roll, lhes digo que não se decepcionarão. Reviews, notícias, histórias, experiências, anedotas, tudo estará aqui.

E agora, let the music (ou texto, no caso) do the talking.