quinta-feira, 19 de junho de 2008

Há 30 anos: Uma explosão Heavy Rock (2)

Como já escrevi no post inicial sobre a tal explosão heavy rock, 1978 foi um ano confuso e de transição para o rock 'n' roll. E uma das coisas mais curiosas é que muitas bandas hard rock resolveriam partir para o pop no início da década de 1980, mas outras investiram cada vez mais no peso.

Isso aconteceu com o Judas Priest, a quem considero o primeiro grupo que buscou o heavy metal. O heavy metal que digo é aquele que conhecemos hoje, caracterizado pelo som pesado, rápido (às vezes nem tanto), "cavalgado" e geralmente acompanhado de um visual agressivo dos membros da banda - assunto que teve forte colaboração do Judas, que imortalizou o couro e o transformou em um item quase obrigatório no guarda-roupa metaleiro.

Na verdade, penso que o Black Sabbath é o maior pioneiro heavy metal, mas o próprio Ozzy discorda desse termo. Para ele, o Sabbath é uma banda de heavy rock. Mesmo criando a base sonora (e também visual) do estilo, o Sabbath mostrou sempre deixou claro suas origens e influências, que vinham até do blues. O Judas Priest, apesar de seu primeiro álbum, já "nasceu" heavy metal. O Sabbath mostrou o caminho que deveria ser seguido, e o Judas foi lá e seguiu.

Agora vamos para o álbum que, para mim, mudou a história da banda. E, para mim, é o melhor dentre os que eu classifiquei na "explosão heavy rock".

Judas Priest - Stained Class - 10/2/78

1. "Exciter" – 5:34
2. "White Heat, Red Hot" (Tipton) – 4:20
3. "Better By You, Better Than Me" (Gary Wright) – 3:24
4. "Stained Class" – 5:19
5. "Invader" (Halford, Tipton, Ian Hill) – 4:12
6. "Saints in Hell" (Halford, K.K. Downing, Tipton) – 5:30
7. "Savage" (Halford, Downing) – 3:27
8. "Beyond the Realms of Death" (Halford, Les Binks) – 6:53
9. "Heroes End" (Tipton) – 5:01

Produzido por Dennis Mackay

"Stained Class" foi o primeiro tiro certo do Judas no heavy metal. Após um primeiro disco confuso, sem direção e mal produzido ("Rocka Rolla", de 1974), os caras começaram a achar o caminho com "Sad Wings of Destiny" (1976), também porcamente produzido mas coeso e com os clássicos "Victim of Changes", "The Ripper", "Genocide" e "Tyrant". "Sin After Sin" (1977), com produção de Roger Glover (baixista do Deep Purple), trouxe mais peso em praticamente todas as faixas.

Mas a abertura de "Stained Class" já demonstra como o grupo acertou a mão neste álbum. "Exciter", com dois bumbos, velocidade, agudos de Rob Halford, letras agressivas, duelos e solos de guitarra e ótimas viradas de bateria, graças a Les Binks, que estreou no banquinho naquele disco e deu saudades quando saiu, em 1980, para dar lugar ao famigerado Dave Holland.

"White Heat, Red Hot" e o cover "Better By You, Better Than Me" são ótimas canções, com bons refrões, e que mantém a evolução do álbum. Já a faixa-título é outro grande destaque pela base "cavalgada", os vocais sobe-e-desce de Halford e novamente pelo trabalho das guitarras.

"Invader" e "Savage" são os tradicionais "fillers", para segurar a barra no disco. A faixa final "Heroes End" traz o Judas de volta ao início da carreira, mais hard rock e com um estilo levemente exótico, até na performance única de Halford.

O destaque final é "Beyond the Realms of Death", penúltima canção, que não é uma das minhas favoritas mas inegavelmente impera como um dos maiores clássicos do grupo. É o mais próximo que "Stained Class" chega de uma balada, algo até raro na carreira inteira do Judas, que sempre se meteu a compor canções lentas, cuja qualidade varia. É sem dúvida uma letra interessante, um pouco sabbathiana, cujo tema é suicídio.

O desempenho de Halford novamente chama a atenção pela emoção com a qual o vocalista carrega a música, interpretando o enredo da canção. A ponte entre o trecho lento e o rápido também convence, e quem dá show mesmo é Glenn Tipton. Na minha opinião, Tipton sempre teve mais apelo melódico (e talento) nos solos do que o parceiro KK Downing, mas isso fica escancarado no melhor momento de "Beyond the Realms of Death", que é justamente o solo emocionante de Tipton, um de seus preferidos. Muita gente diz que "Beyond the Realms of Death" é a "Stairway to Heaven" do Judas. Como as duas são clássicos de suas respectivas bandas, variam entre guitarras pesadas e acústicas e com excelentes solos, acho que essas pessoas têm razão. Aliás, "Stairway to Heaven" nunca foi uma de minhas favoritas do Led Zeppelin...

"Stained Class" mostrou ao mundo que o Judas Priest falava sério, apesar da postura exótica e agressiva do grupo. Soube incorporar um pouco do visual punk no heavy metal, fundamental para estabelecer o estilo "maltrapilho". Além das excelentes músicas, o disco mostrou uma consistência inédita para a banda, importantíssima para que o Judas Priest definisse sua identidade e, seguindo os passos do Black Sabbath, criasse os alicerces do heavy metal.

"Stained Class" também ficou à frente de discos semelhantes da época por conta de seu foco direcionado à elaboração das canções pesadas, e influenciou praticamente todas as bandas de heavy metal que apareceram nos anos seguintes. O fato de ter conseguido relativo sucesso também mostrou o estilo como viável e deu confiança à banda para continuar com sua identidade e investindo nas composições diferentes.

segunda-feira, 16 de junho de 2008

Amargo regresso


Tudo bem que o Corinthians voltou para a Série B e as coisas logo voltaram ao normal. Uma goleada por 4 a 1 sobre o Brasiliense depois da chorada perda do título da Copa do Brasil. Mas não perdi o trocadilho com o famoso filme de 1978, estrelado por Jon Voight e dirigido por Hal Ashby.

O Corinthians fez tudo certo no torneio nacional. Jogou com garra, coesão e até mesmo técnica. Tudo até os 90 minutos finais. Veio o brancão, uma seqüência de erros e um vice-campeonato mais do que justo.

Não há desculpa para a derrota acachapante. Simplesmente não houve futebol para o Corinthians. A equipe entrou confiando na marcação, que não tomaria um gol do Sport. Quando sofreu o primeiro, e logo depois o segundo, todo mundo tremeu. E a Ilha do Retiro falou alto. Os jogadores do Corinthians, "acostumados" a lidar com a segunda maior torcida do Brasil, sucumbiu à pressão dos torcedores do Sport. Do time do Sport. De tudo.

O Sport, aliás, apenas jogou futebol. O resto é desculpa. Os caras foram lá e provaram o que diziam, e o maior símbolo do time foi Carlinhos Bala. Ele sempre acreditou no título, mais até do que os jogadores do Corinthians, que havia vencido o primeiro jogo por convincentes 3 a 1.

Há de se lamentar também a falha do Felipe no segundo gol. Mais lamentável ainda foi a atitude dos que resolveram culpar o goleiro pelo time não ter jogado nada. Esqueceram que, na semifinal, quando o time também não rendeu o esperado no segundo jogo com o Botafogo, Felipe defendeu o último pênalti dos cariocas e deu ao Corinthians a vaga na decisão. O mais fácil, no entanto, é achar um único culpado para as coisas.

Outro suposto culpado foi o árbitro Alício Pena Júnior. Desse, não tenho muito o que falar, simplesmente porque, na minha visão, ele não influenciou no resultado. O tal pênalti no Acosta foi apenas duvidoso, e quando é duvidoso não dá para discutir com o cara que tem que decidir um lance desses em uma fração de segundo (clichezão esse...). A expulsão do Saci só dá para culpar o próprio pela cagada. E também Carlinhos Bala, pela catimba ter dado certo...

Por fim, a culpa é de todo mundo que jogou e tremeu quando precisava apenas fazer um gol. Aquele time que enchia os olhos não teve frieza o suficiente para se levantar. E, por último, Mano Menezes, que colocou a equipe para apenas se defender confiante de que a defesa daria conta do recado. Talvez se entrasse pressionando o Sport, como ele disse, antes do jogo, que iria fazer...

E que as desculpas fiquem para trás e que o elenco, que é bom, se reerga para a disputa da segunda divisão.

Guerra, guerra, guerra

Ouvi tanto falar em "guerra" para essa partida. No fim, não deu em nada. Mas ficou a lição de que essa rixa entre estados foi patética.

Parece que Pernambuco, em um aspecto geral, tomou a vitória do Sport como sua. Como um triunfo de Pernambuco sobre São Paulo. Não foi nada disso. O título é apenas do Sport. Não que os pernambucanos não devam comemorar o êxito da equipe de seu estado, apenas que não transformem isso em uma vitória sobre os paulistas. Paulistas esses que, em sua maioria, riram da cara de sofrimento dos corintianos e da apatia do time do Parque São Jorge.

Não é guerra de estados, nem do Nordeste contra o Sudeste. É apenas um jogo de futebol.

Infelizmente, sei que baianos, pernambucanos e paraibanos que moram por aqui sofrem muitas vezes com um preconceito cego e histórico sobre suas origens. Infelizmente também, não vai ser uma vitória do Sport que mudará isso, muito menos quando se refere a mentes ignorantes, responsáveis por esse preconceito.

Ingressos

A palhaçada dos ingressos vendidos no Recife, até por um dirigente do Sport, que fazia cambismo, precisa ser investigada pela CBF. Aquilo foi o cúmulo do desrespeito com os torcedores.

Primeiro, essa história de que o time visitante tem direito a 10% da cota total de ingressos de uma partida, que está no famigerado Estatuto do Torcedor, precisa ser esclarecida. Se a polícia vetar, por causa de problemas com a lotação dos setores dos estádios, o que fazer? A CBF e o STJD, do promotor-celebridade Paulo Schmitt, poderiam muito bem explicar direito como o time mandante deve agir, quais procedimentos tomar, etc...

O que aconteceu na Ilha do Retiro foi escancarado, mas não um caso isolado. Por estas bandas, o Corinthians também passou por um episódio mal-explicado com o Botafogo, na semifinal. Por isso que quem manda no futebol do Brasil precisa se meter nessa história e impedir esse tipo de atitude, seja em Pernambuco, São Paulo ou onde for. Quando as coisas são padronizadas, tudo fica mais fácil.

Por fim, os corintianos que foram a Recife sem ingresso não podem reclamar de muita coisa. Mesmo que o Sport garantisse os tais 10% da cota para o Corinthians, quem iria garantir que todo mundo conseguiria sua entrada?

É, são muitas coisas que precisam ser estudadas por aqueles que se dizem especialistas no assunto, mas que não tomam as atitudes devidas quando a bomba estoura.

terça-feira, 10 de junho de 2008

Tuvucanadá: Montréal

Neste último final de semana, tivemos o GP do Canadá de F-1, disputado no circuito Gilles Villeneuve, em Montréal. Cidade que eu fiz questão de visitar, obviamente, em minha jornada franco-canadense.

Fiquei por seis dias em Montréal, que é um belíssimo lugar. Cosmopolita, mas que guarda o charme da velha cidade fundada pelos franceses no século XVI. Duzentos anos depois, foi tomada pelos britânicos, mantendo as raízes gaulesas, assim como Québec City. A veia separatista, no entanto, não me pareceu tão forte em Montréal como acontece na capital da província de Québec.

O post não será longo como os outros textos canadenses, apenas quero descrever minhas impressões sobre o circuito, que fica na Ile de Notre Dame, uma ilha artificial criada com pedras retiradas das escavações para a construção do metrô (o charmoso "Metró" de Montréal). Ela foi elaborada para a Expo 67, feira mundial de exposições realizada na cidade em 1967, um evento marcado pela consolidação da identidade dos "Quebécois" e que contou com a presença de diversos personagens importantes, como o presidente dos EUA na época, Lyndon Johnson, a rainha Elizabeth II, e Charles de Gaulle, presidente francês (autor da famosa frase "Vive le Québec libre" durante um discurso no evento, o que causou um incidente diplomático com o Canadá e incendiou os separatistas franco-canadenses).



O que tenho a dizer é que a pista, que se esfarelou e causou inúmeros problemas aos pilotos neste final de semana da F-1, é maravilhosa. E, como fica em um parque, é aberta a qualquer um que queira visitá-la. Não tive problemas para entrar e tirar as fotos, inclusive do famoso Muro dos Campeões, junto à reta dos boxes, no qual todo piloto de verdade (Michael Schumacher, Jacques Villeneuve, Damon Hill, Mika Hakkinen, Jenson Button, Juan Pablo Montoya, entre muitos outros) já bateu pelo menos uma vez na carreira. A marca do muro está lá, eterna.

Andei quilômetros pela pista, vazia. Não há muito o que dizer, estava tudo desmontado. Deu para admirar toda a "natureza artificial", maravilhosa, e que traz uma ótima sensação de tranqüilidade, quebrada pela corrida da F-1 uma vez por ano. Tem também o belo Cassino du Montréal, onde os bem-bonados gastam toda sua grana.


Fico triste com a possibilidade de cancelamento do GP de Montréal, considerando todos os problemas do circuito. Além da pista esfarelada, as áreas de escape sempre foram pequenas (e sem muita possibilidade de expansão), mas acho que a organização do autódromo deve se preocupar mais com sua preservação, pois é um local histórico e maravilhoso. Merece a F-1, por tudo que representa.

É uma pista rápida, com um belo cenário e histórico para a categoria. Marcou a primeira vitória do nativo Gilles Villeneuve na F-1, em 1978, no debút das etapas em Montréal. Para mim, Villeneuve é o maior piloto da F-1 que nunca ganhou um título (até porque morreu em 1982, com apenas 32 anos, antes de concretizar seu sonho). Foi um showman da categoria, sempre pilotando com a faca nos dentes, e recebeu uma bela homenagem no circuito.

No domingo, Robert Kubica levantou a taça de vencedor na F-1 pela primeira vez. Também foi a primeira vitória da história da Polônia, assim como Montréal inaugurou os triunfos do Canadá na categoria com a vitória de Gilles em 1978. A pista ainda celebrou as primeiras vitórias na F-1 de Lewis Hamilton, no ano passado, e de Thierry Boutsen, em 1989. Em 1995, Montréal foi palco do único triunfo de Jean Alesi na F-1, em uma corrida na qual Rubens Barrichello chegou, pela primeira vez na carreira, em segundo lugar. Em 1991, o circuito viu Nelson Piquet levar sua última das 23 vitórias na categoria em seu ano de despedida, pela Benetton, após Nigel Mansell (de Williams) perder a liderança na volta derradeira por causa de um(a) problema elétrico no carro/cagada sua (nunca foi totalmente esclarecido).

A F-1 não pode perder Montréal, e a recíproca é verdadeira. Depois de conhecer o autódromo, meu sonho agora é assistir ao GP do Canadá das arquibancadas do circuito Gilles Villeneuve.

terça-feira, 3 de junho de 2008

Há 30 anos: uma explosão Heavy Rock (1)

1978 foi um ano transitório para o rock. A queda do progressivo e de bandas de hard rock, dando lugar à simplicidade do punk e da new wave, além da dançante disco music, marcaram a fase 1976-1980 no estilo.

Alguns conseguiram sobreviver por um certo tempo, como o Pink Floyd. Outros resolveram dar um tempo, como Deep Purple e Yes. Mas uma leva de bandas novas, dos dois lados do Atlântico mesclaram diferentes influências do som pesado e revolucionaram o heavy rock.

Esse termo, na verdade, é apenas uma convenção para definir os anos que antecederam à explosão heavy metal, essa sim mais característica.

Nesse primeiro post, abordarei um dos destaques do primeiro semestre de 1978, já marcado por consistenstes lançamentos do heavy rock.

Scorpions - Taken By Force - 4/12/77

1. "Steamrock Fever" (Schenker/Meine) – 3:37
2. "We'll Burn the Sky" (Schenker/Dannemann) – 6:26
3. "I've Got to Be Free" (Roth) – 4:00
4. "The Riot of Your Time" (Schenker/Meine) – 4:09
5. "The Sails of Charon" (Roth) – 5:16
6. "Your Light" (Roth) – 4:31
7. "He's a Woman – She's a Man" (Schenker/Meine/Rarebell) – 3:15
8. "Born to Touch Your Feelings" (Schenker/Meine) – 7:40
Produzido por Dieter Dierks

Tudo bem, começo a série roubando logo de cara. Mas acho que a presença desse disco é essencial para o contexto heavy rock. E como ele saiu em dezembro de 77, quase 78, está incluso. Afinal, muitos o ouviram justamente no primeiro semestre de 78.

"Taken By Force" foi o último disco de estúdio do Scorpions antes da saída do guitarrista Uli Jon Roth. Marcou o fim da fase mais pesada da banda, que namorava com o heavy metal. A partir de "Lovedrive" (1979), as coisas começariam a ficar mais leves, grudentas e cadenciadas.

Dessa maneira, "Taken By Force" é a chance derradeira de ouvir os solos hendrixianos de Roth e sua pegada metal-cavalgante. O trabalho também é um sucessor natural dos clássicos "In Trance" (1975) e "Virgin Killer" (1976). Esses dois discos, respectivamente terceiro e quarto na história da banda, consolidaram o som característico do grupo nessa época. "Taken By Force", por sua vez, solidifica tais particularidades.

Chamo atenção para a capa, mais uma das polêmicas na carreira da banda. Foi censurada em alguns países por conter crianças apontando armas, "brincando" em um cemitério, sendo substituída por uma imagem da banda, sem graça por sinal. Outras capas censuradas da banda foram do "In Trance" (1975), "Virgin Killer" (1976 - essa é de extremo mal gosto, um dia posto sobre a história dela) e "Lovedrive".

O grande destaque do disco é a fantástica "He's a Woman, She's a Man", talvez o maior clássico da banda nessa primeira fase e que foi regravada pelos compatriotas do Helloween 20 anos depois. O peso e a velocidade, aliadas à letra bizarra, típica da banda, além das cavalgadas e do riff repetitivo, são as principais marcas da canção. Ela é realmente poderosa, principalmente ao vivo. Também chama a atenção o início fulminante da faixa e os gritos (de desespero?) do vocalista Klaus Meine, além de uma linha melódica vocal cheia de variações, beirando o desafinado. No refrão, no entanto, a coesão entre os integrantes "coloca tudo no lugar". A temática "traveca" é muito ousada, mesmo parecendo escrachada.

No mesmo estilo, está a faixa de abertura, "Steamrock Fever", cujas características são bem semelhantes a "He's a Woman, She's a Man", além do som de uma britadeira acompanhando a levada da bateria durante a música. Inserções de público e backing vocals também criam o clima de uma apresentação ao vivo, o que encorpa a canção.

Com uma pegada mais setentista aparecem "I've Got to be Free", "The Sails of Charon" e "The Riot of Your Time", que não têm a mesma consistência das duas faixas já citadas, mas garantem a solidez do álbum. As duas primeiras são composições de Roth, e "The Riot of Your Time" é da parceria Rudolf Schenker/Klaus Meine. Sem tanto brilho, mas com qualidade. São mais cadenciadas e repetitivas, mantendo o peso.

Uma das faixas que se destaca como diferente é "Your Light" (também de Roth), muito agradável, que alterna momentos mais sutis, com guitarras "limpas", e trechos pesados, cheios de distorção. Meine também alterna seu estilo de cantar, variando a pegada vocal ao longo dos quatro minutos e meio de música.

A balada é a última canção, "Born to Touch Your Feelings". Não é brilhante como as baladas posteriores do Scorpions, mas importante no desenvolvimento da banda com esse tipo de canção. De qualquer maneira, uma certa influência de Queen (antigo) e bandas mais progressivas também aparecem. O problema é a duração, com mais de sete minutos, o que cansa um pouco quem ouve. Na fase pop, a banda se deu melhor com as baladas, tanto na composição quanto no sucesso comercial.

Deixo por último "We'll Burn the Sky", segunda faixa do álbum. Para mim, esse é um ponto de virada na banda. Pela primeira vez em sua carreira, o Scorpions acerta a mão de verdade em uma música na qual caminha em diversos estilos. Ela começa balada, vira uma espécie de reggae acelerado, bem pontuado pela guitarra de Uli Jon Roth (e a bateria de Herman Rarebell), retorna aos arpeggios do início, chega aos solos e termina de forma explosiva. Principalmente na última estrofe da letra, romântica e psicodélica ao mesmo tempo.

I know we've never been apart
Your love sets fire to my heart
We'll burn the sky, when it's time for me to die
We'll burn the sky

A letra é bela, por sinal, apesar do inglês limitado. Não da banda, neste caso. A música foi escrita por Monika Dannemann, última namorada de Jimi Hendrix antes de sua morte, da qual, inclusive, foi considerada suspeita. O suposto suicídio de Monika, em 1996, também envolve circunstâncias obscuras. De qualquer maneira, ela era namorada de Uli Jon Roth em 1978 e colaborou com o guitarrista na época.

Aliás, eu acabei de descobrir tudo isso, depois que li que tinha sido "um tal de Dannemann" que tinha sido autor da letra. Bizarro, como muitas coisas que envolvem o Scorpions. Toda a parte musical de "We'll Burn the Sky", no entanto, foi elaborada pelo guitarrista Rudolf Schenker, e não por Roth.

No final das contas, acho que "We'll Burn the Sky" é a melhor composição da história da banda. Mais completa, pelo menos.

Os pontos altos de "Taken by Force" consolidaram o peso na carreira do Scorpions, apesar de o grupo resolver mudar o direcionamento a partir do álbum seguinte. A coesão dos integrantes dessa formação, pela última vez, ajudou a reforçar a identidade da primeira banda alemã que chegou ao status de sucesso na história do rock.

No próximo "Há 30 anos", mais uma pérola do heavy rock, ainda não escolhida.

As efemérides do rock

Efeméride - segundo o dicionário Michaelis - comemoração de um fato, geralmente auspicioso

Bom, usarei de efemérides para criar uma seção que há muito tempo venho pensando. Para criar um padrão de análise de discos históricos do rock 'n roll, escolhi aqueles que estejam fazendo aniversário. Dessa maneira, aproveitarei-me de álbuns que celebrem 5, 10, 15, 30 anos, e por aí vai, para saciar essa vontade de escrever.

Deixo claro, desde o início, que a intenção não é de fazer resenhas sobre discos clássicos do rock. Abordarei cada álbum com critérios diferentes. A idéia é destacar a importância da obra para o estilo, ou para a banda, ou até mesmo colocar em evidência alguma peça não tão reconhecida.

Também apontarei discos onde o brilho é ausente, aqueles que decepcionaram ou mudaram o curso de bandas. Ou mesmo agrupar uma série de obras semelhantes, que ajudaram a moldar um estilo ou apontaram a decadência do mesmo.

Ou seja, a idéia é de não ter regras, apenas seguir os aniversários. Tentarei ser fiel aos meses em que os discos foram lançados, mas sem rigidez quanto a isso.

Assim, a maioria das obras será de 1968, 1873, 1978, 1983 e 1988, com exceções para antes e depois. A seção também não terá um nome fixo nem original, será do tipo "Há xx anos: Sgt. Peppers".

O abuso e a herança maldita


Foto: Agência Estado

A cena de ontem no estádio dos Aflitos, com o zagueiro André Luiz saindo do gramado preso porque foi expulso de campo, certamente é uma das imagens mais lamentáveis do futebol brasileiro neste ano.

Começo o texto dessa forma para atestar o que aconteceu, no final das contas. Como a confusão começou? A partir do momento em que André Luiz foi abordado pela polícia de forma truculenta e, pior, inexplicável.

Como explicar que um jogador expulso, por mais descontrolado que tenha ficado, por pior que seja, por mais que quebre pernas de adversários, saia de um jogo preso? Porque mostrou o dedo para a torcida? O que a polícia tem a ver com isso? Ele será punido na esfera esportiva, de qualquer jeito. E merece tomar um gancho sim por todo seu destempero.

Mas, a partir do momento em que os xerifes agiram, aí não se pode ter sangue de barata. A tenente-celebridade falou um monte sobre o jogador do Botafogo, mas esqueceu de explicar o porquê de ela ter ido abordá-lo. André Luiz já se encaminhava aos vestiários, não precisava da polícia para isso.

E as cenas que se seguiram nos fizeram remeter a um momento bem particular da nossa história, do qual não convivi, mas ouvi e li relatos de parentes, famosos e anônimos. Sim, lembrei da ditadura, onde a definição "abuso de autoridade" não existia. Até porque o governo militar era a encarnação do maior dos abusos de autoridade.

Os policiais alegaram desacato. Que pena que André Luiz não pode simplesmente alegar desrespeito. Mas o show para a torcida, extremamente inflamada, já que o cara que os ofendeu estava ali sendo humilhado na frente de todos, valeu. A saída dele pelo acesso dos torcedores foi quase que um convite ao linchamento. Foi para assustar o jogador. Foi de assustar a todos que assistiam, temendo pelo atleta, pelos torcedores, pelo Bebeto de Freitas e até mesmo pelos policiais que faziam a "escolta".

Muito se falou sobre os culpados. Para mim, o André Luiz é um deles. O Náutico, apenas se for comprovado que o clube teve culpa na história do vestiário trancado. A Federação Pernambucana, pelo mesmo motivo. Aliás, o Náutico se julga inocente de tudo que aconteceu. Creio que seja mesmo, com relação a isso. O problema é quando seu presidente, Maurício Cardoso, saia dando entrevistas dizendo que a polícia fez o certo. Cardoso deu o aval. Mesmo que o Náutico não tenha nenhum poder na segurança pública de PE, esse atestado é temerário. Encoraja os xerifes a fazerem tudo de novo, com o aval do clube de seu estado.

E não há nada que justifique a atitude destes "homens da lei", que trataram um jogador mal-educado e estourado como um bandido perigoso, que acabou de cometer um crime hediondo. Não tem como explicar o fato de o vestiário ficar trancado. Ah, tinham 200 caras do Botafogo na porta? Que saíssem todos, então. Duvido que a intenção dos dirigentes da equipe do Rio seria de que o André Luiz não entrasse e ficasse exposto àquele risco e à violência.

Agora, teremos Sport e Corinthians fazendo o segundo jogo das finais da Copa do Brasil no Recife. Espero que a polícia pernambucana reflita e entenda sua real posição no jogo, que é apenas de oferecer segurança, e não criar tumultos ou showzinhos onde eles não existem. Sem pão e circo da próxima vez, por favor. Aqueles tempos já passaram e que fiquem bem para trás.