segunda-feira, 29 de setembro de 2008

Sobre "ironias do destino"

Fiz um texto gigante, agora, colocando toda a retrospectiva dos eventos envolvendo Felipe Massa e Lewis Hamilton desde 1 de setembro, dia do GP da Bélgica de F-1.

A idéia era relembrar, passo a passo, todas as reviravoltas no campeonato nesses últimos dias, desde a vitória do inglês em Spa, a cassação da mesma, o GP da Itália, a FIA considerando inválida a apelação da McLaren sobre a punição ao inglês na corrida belga, culminando na lambança ferrarista em Cingapura. Sempre contextualizando e apontando as diferenças na classificação de acordo com cada cenário.

No final, que ainda não estava escrito, eu iria dissertar sobre a ironia que foi Hamilton ampliar em seis pontos sua vantagem para Massa na corrida de Cingapura depois da bobagem da Ferrari no primeiro pit stop do brasileiro. Afinal, Hamilton perdeu justamente seis pontos na briga pelo campeonato por causa de uma canetada dos comissários, que para mim foi injusta. Lembrando que, mantido o resultado original em Spa, Hamilton teria quatro pontos a mais, e Massa contaria com dois a menos.

Essa era a questão: seis pontos ganhos do céu (também conhecido como FIA) na Bélgica, seis pontos amargos e perdidos na prova noturna, por culpa exclusivamente sua - Ferrari, no caso. Uma ironia e tanto.

Assim, chegaria a algumas conclusões: primeiro, a Ferrari tem errado demais, demais nas corridas.

Segundo, as canetadas deveriam ser aplicadas quando o regulamento fosse bem claro em relação a chicanes cortadas e punições, o que não é o caso; parece aquela chatice da "regra interpretativa" imortalizada pela Fifa no futebol.

Terceiro, Hamilton e Massa fazem um belíssimo campeonato, dentro de suas capacidades; a F-1 não precisa de um piloto como Schumacher para ser espetacular (apesar que o Vettel vem aí), basta bons pilotos.

Por último, esse campeonato é o mais legal que eu vejo desde 2003, provavelmente, com a diferença de que não temos um Schumacher com um monte de novas regras contra si. Foram resultados diferentes, com vitórias de Robert Kubica, Fernando Alonso e principalmente Sebastian Vettel. BMW Sauber e Toro Rosso ganham suas primeiras corridas na F-1, enquanto que a Renault volta a triunfar pela primeira vez desde 2006.

Isso tudo estaria muito detalhado se não fosse um maldito comando de nome "Auto-Select" no Windows Vista. Explico: eu iria finalizar o trecho sobre a lambança da Ferrari ontem e precisava colocar que o Massa ficou em décimo-terceiro. Não achava, no laptop, o ordinário o. (como você nota, essa batalha ainda não foi vencida), para não ter de indicar o número por extenso.

Fui buscar com o botão direito, achei um "Encoding" e pensei: "é aqui mesmo!". Ledo engano. Por um motivo ainda não (e provavelmente nunca) compreendido, o texto sumiu, como em uma fábula. Para melhorar minha situação, o Blogger resolveu salvar meu texto naquele exato momento. Saí dele para tentar buscar sua versão "com texto", mas lá estava o post, todo branco, apenas com o título.

Que ganhou um novo significado após toda essa chatice inexplicável que ocorreu e me deixou extremamente irritado, sem o mínimo saco de escrever tudo de novo.

Bom, saiu isso aqui, acho que tá mais do que bom, tendo visto a circunstância. E prometo que salvarei os textos enquanto estiver escrevendo.

Já comecei, inclusive.

quarta-feira, 24 de setembro de 2008

Há 30 anos: Uma explosão australiana (1)

Australiana, marromeno. Angus e Malcom Young, além do vocalista Bon Scott, são escoceses que migraram para a Austrália. Mas montaram a banda em Sydney, isso é fato, o que faz deles australianos também.

O caso do AC/DC no "Há 30 anos" é um pouco diferente em relação ao do Judas e do Scorpions, porque vou postar sobre dois discos. Ambos foram lançados em 1978 e fizeram história. Naquela época, a banda vinha de uma escalada de sucessos que culminou com Let There Be Rock (1977), seu melhor disco até então, na visão deste blogueiro.

Consistente e recheado de clássicos (Whole Lotta Rosie, Let There Be Rock, Hell Ain't a Bad Place to Be, Problem Child), o terceiro álbum de estúdio da banda (quarto na Austrália) é daqueles de alavancar carreiras ao estrelato.

Mas falaremos das obras de 1978, Powerage (agora) e If You Want Blood You've Got It (daqui a algum tempo - espero que não seja longo).

AC/DC -Powerage - 25/05/2008



1. "Rock 'n' Roll Damnation" – 3:37
2. "Down Payment Blues" – 6:03
3. "Gimme a Bullet" – 3:21
4. "Riff Raff" – 5:11
5. "Sin City" – 4:45
6. "What's Next to the Moon" – 3:31
7. "Gone Shootin'" – 5:05
8. "Up to My Neck in You" – 4:13
9. "Kicked in the Teeth" – 4:03


Powerage pode não conter tantos hits em relação a Let There Be Rock, mas é tão consistente quanto. Um disco feito inteiramente de boas músicas, sem exceção, e alguns momentos brilhantes.

Começando pela chamativa e famosa capa. A imagem de Angus Young sendo "eletrocutado" é uma das mais marcantes da história da banda e ilustra com perfeição toda a energia exalada pelo AC/DC em seus shows (e pelo guitarrista também).

A abertura com Rock 'n' Roll Damnation é empolgante, denunciando o que vem a seguir nos próximos 40 minutos de música. O AC/DC não tenta nenhuma modificação ousada em seu som, pelo contrário. Volta a fazer em Powerage tudo aquilo que consagrou a banda nos discos anteriores: um blues acelerado com guitarras pesadas, encostando no heavy metal. Uma junção suja de Hard Rock, Heavy Metal, Rock 'n' Roll e Blues.

Down Payment Blues tem uma ótima letra, relatando a simplicidade e o desleixo, dois símbolos do grupo. Logo no início, Bon Scott canta you know I ain't doing much/doing nothing means a lot to me ("sei que não estou fazendo muito/não fazer nada significa muito para mim"), que cai bem para descrever quem sempre reverenciou o simples e ignorou o complexo.

Já a terceira faixa, Gimme a Bullet, assim como What's Next to the Moon (e Cold Hearted Man que só aparece em versões européias de Powerage), é apenas uma ótima música, que compõe o disco e não produz nenhum destaque específico.

Sin City, que também chegou a ser executada ao vivo com Brian Johnson, fala sobre Las Vegas ou qualquer cidade que tenha cassinos, mulheres e bebidas em geral. Um clássico. Vale prestar a atenção na letra, como é habitual quando se refere a Bon Scott.

O final do lado B, com Gone Shootin (conheci essa na trilha sonora do filme do Beavis and Butthead, que eu tenho até hoje), Up to me Neck in You e Kicked in the Teeth é um chute nos dentes, literalmente, cheio de energia. Começando com o groove da primeira, totalmente blues, passando pela simplicidade da segunda e chegando até a zeppeliana música final, que começa com um monólogo do vocalista e vai crescendo de acordo com a letra da canção. Um final perfeito para Powerage.

Riff Raff, por sua vez, ficou por último por ser uma das melhores composições da história da banda, e a grande canção de Powerage, ainda mais depois de virar música-abertura da turnê do álbum. Acabou imortalizada como primeira faixa do clássico If You Want Blood You've Got It, que ainda receberá destaque maior neste blog.

O nome da música é bem propício por contar com um dos marcantes riffs dos irmãos Young. É um blues bem acelerado, uma mistura de Kiss, Grand Funk Railroad e Led Zeppelin, mal comparando. O refrão, berrado por Scott, é marcante, fácil de cantar e com um interessante jogo de palavras. Já o solo de Angus é inspiradíssimo, com uma cozinha ritmada, quase que como uma big band do rock 'n' roll.

Aliás, se um dia eu fizer um top 10 com as melhores guitarras em canções, tenho certeza de que Riff Raff estará na lista.

Os últimos versos da música definem não apenas o disco, mas a banda inteira. Parece um recado do AC/DC para o mundo.

I never shot nobody, don't even carry a gun
I ain't done nothing wrong, I'm just having fun
Riff Raff
It's good for a laugh
Riff Raff
Go on and laugh yourself in half

Em pleno 1978, com explosão punk e tudo mais, o AC/DC queria lembrar a todo mundo que o rock 'n' roll é, antes de tudo, diversão.

PS: Fica aqui o registro de um ótimo review sobre o disco, produzido pelo site Stilus e escrito por Edwin Faust (em inglês). É uma visão diferente e muito mais aprofundada do que a minha, com uma completa análise das letras e contextualizando o período vivido por Bon Scott na época.

segunda-feira, 22 de setembro de 2008

The Great Wright in the Sky


No último dia 15, foi-se Richard Wright, tecladista e um dos fundadores do Pink Floyd. Wright, sumido da mídia há algum tempo, padeceu de um câncer, em uma batalha curta, de acordo com informações de um porta-voz do músico.

Agora, mais de 40 anos após ter integrado uma das maiores bandas do Rock 'n' Roll de todos os tempos e que produziu uma obra de arte chamada The Dark Side of the Moon (1973), Rick Wright parece receber um pouco da atenção que mereceu durante todo esse tempo. Tanto de ex-membros da banda quanto da imprensa e da crítica em geral, incluindo a mídia especializada.

Digo isso porque sempre senti Wright como um dos músicos mais injustiçados e subestimados do rock, algo que aconteceu também porque este virou diminuto diante da imponência de Roger Waters no início dos anos 70 e da liderança de David Gilmour na década seguinte.

A saga de Wright no Pink Floyd se divide em três períodos: o início da banda, entre 1966 e 1975, da qual participu ativamente como compositor; o “ostracismo”, entre 1976 e 1983, quando chegou a ser demitido por Roger Waters e recontratado como músico de estúdio, além de ficar longe das composições da banda; e a fase coadjuvante, na nova encarnação do Floyd (sem Waters e com Gilmour liderando), que resultou nos álbuns A Momentary Lapse of Reason (1987) e The Division Bell (1994), época em que apenas figurou ao lado de Nick Mason em algo que pode ser chamado de “projeto solo” de David Gilmour.

Essa diminuição da importância do tecladista a partir de 1976 é, na minha opinião, inexplicável. As linhas de teclado de Wright ajudaram a compor a psicodelia comandada pelo ex-vocalista e guitarrista Syd Barret nos primeiros discos da banda. Nessa época, Wright também atuava nos vocais, geralmente fazendo backing.

Em Atom Heart Mother (aka “o disco da vaca, de 1970), Rick compôs, sozinho, o que é para mim a melhor canção daquele álbum: "Summer of ‘68". A música, que alterna momentos psicodélicos (herança do início da banda) com a sutileza de uma verdadeira balada, é até hoje (não sei exatamente o porquê) executada nas rádios brasileiras, mas totalmente esquecida pela banda. Não figura, por exemplo, na excelente coletânea Echoes (2001), e aparentemente nunca foi tocada ao vivo (até onde pesquisei, pelo menos).

No álbum seguinte, Meddle (1971), foi co-autor das duas músicas mais destacadas da obra: "One of these Days" e "Echoes", ambas compostas pelos quatro integrantes em parceria. Na segunda, Wright dividiu as linhas vocais com David Gilmour com maestria, em um belíssimo dueto, que voltaria a se juntar em "Time" e "Breathe" no disco seguinte, o já citado "The Dark Side of the Moon".

Foi nele que o tecladista compôs sua obra-prima, chamada "The Great Gig in the Sky", a qual este blog faz um trocadilho no título do post. Lá, Wright demonstrou toda sua técnica, auxiliada pelo histórico e emocionante solo da cantora Clare Torry, em uma música instrumental co-escrita por Roger Waters. O clássico "Us And Them" também surgiu da hoje inusitada dupla Waters/Wright.

Daí pra frente, ele foi deixado de lado, ou se deixou de lado, e viu Roger Waters assumiu a liderança do grupo. Brigou com o baixista, acusando-o de ditador, e este replicou dizendo que Wright simplesmente "não estava nem aí" para a banda. Estes atritos causaram a saída do tecladista (ou sua demissão) durante as gravações de "The Wall" (1979), onde foi creditado como músico convidado, voltando depois para a turnê da opéra-rock. Wright não participou do álbum-solo-de-Waters-com-o-nome-de-Pink-Floyd "The Final Cut" (1983).

O tecladista voltaria para o projeto Gilmour, que também incluiu o baterista Nick Mason, e co-escreveu cinco músicas em "The Division Bell" ("Cluster One", "What Do You Want From Me", "Marooned", "Wearing the Inside Out" e "Keep Talking"), nenhuma com o brilho de antes.

Richard William Wright, leonino, nascido em 1943, fez tudo isso pelo Pink Floyd, uma das bandas de rock que mais rompeu o universo da música para atingir outras formas artísticas, como cinema ("The Wall", o filme), artes plásticas (as capas dos discos) e teatro (a turnê de "The Wall").

No aspecto pessoal, suas linhas simples e marcantes me fizeram querer tocar teclado quando eu tinha 13 anos. Não consegui aprender praticamente nada, mas não esqueço daquele sentimento de moleque que me fascinava pela inteligência e concisão, algo que foi irradiado por todos os integrantes do Pink Floyd. Para mim, a criatividade de David Gilmour é a exceção. O Pink Floyd ensinou às bandas de rock como fazer do simples genial. E Wright, como já disse, é um símbolo disto tudo.

Além de esgotar as chances de a banda se reunir, já que seu membro menos carrancudo e mais animado se foi, a morte de Rick Wright o imortaliza como um coadjuvante em uma história na qual começou como um dos protagonistas. E sua trajetória declinante, aparentemente, nunca será esclarecida.

Agora, quem sabe, ele não receba o mérito do qual é de seu direito - um músico essencial para o Pink Floyd virar o que virou.

terça-feira, 2 de setembro de 2008

Felipe Massa, o número 1


Nos últimos dias, tem-se falado muito sobre a necessidade (ou não) de a Ferrari "promover" Felipe Massa como piloto número um da equipe para o restante da temporada 2008. Para isso, os brasileiros (e italianos) usam como argumento a boa fase de Felipe no campeonato (a melhor de sua carreira) e sua vice-liderança na classificação, com 64 pontos, a seis do líder Lewis Hamilton e sete à frente de Kimi Raikkonen.

Não sou a favor, e acho que a postura da Ferrari deve ser respeitada, mesmo com a fase de Felipe. Acho que descartar o finlandês, atual campeão mundial, restando seis corridas para o final da temporada, é um risco que os italianos não podem correr.

Kimi está a 13 pontos do inglês, e até me parece que ficará fora da briga pelo campeonato se Massa não tiver mais tanto azar.

O problema é que na F-1 atual o azar tem sido muito presente. Vide, por exemplo, o infortúnio de Felipe na Hungria, com a quebra de motor a três voltas do final, na atuação mais extraordinária de sua carreira. Ou aquela corrida no Canadá, com a lambança do Hamilton atingindo o Raikkonen nos boxes e tirando ambos da prova. Hoje, a Ferrari precisa do finlandês na briga, porque a F-1 voltou a um estágio, talvez temporariamente, onde os carros estão quebrando demais, diferentemente do ano passado.

Por isso, acredito que Massa será o piloto número um da Ferrari, mas precisa provar que merece. Até agora, tem feito isso com maestria, destruindo Kimi nas classificações e se firmando como o desafiante do rookie Hamilton, que também está louco por seu primeiro título, perdido em 2007 de forma dramática. Raikkonen, por sua vez, vai se apagando prova a prova. Não ganha uma corrida desde abril, quando faturou o GP da Espanha.

Para mim, em duas corridas, no máximo, Felipe atinge essa condição. É só confirmar sua boa forma nos GPs da Bélgica (cujos três últimos foram vencidos por Raikkonen) e Itália, para então desfrutar das regalias de um primeiro piloto.

Daí, quando a briga virar Hamilton/McLaren x Massa/Ferrari, as coisas ficarão bem mais simples para o ferrarista, primeiro brasileiro a lutar, de fato, pelo título da F-1, após 17 anos do tricampeonato de Ayrton Senna.

O melhor

Apenas um comentário final aos pachecos e corneteiros de plantão, sobre quem é o melhor piloto entre Raikkonen, Hamilton e Massa. Para mim, todos eles se mostraram rápidos e bons, mas inconstantes. Por isso, fica até difícil apostar em um deles para o título, já que o trio é basicamente do mesmo nível técnico.

Talvez se a disputa contasse com Fernando Alonso (em uma equipe que lhe desse todas as regalias que o espanhol exige, além de um carro bom) e a revelação Sebastian Vettel (que só precisa de um carro bom para mostrar do que é capaz) as coisas seriam mais difíceis para os três pilotos, porque esses dois parecem acima da média. Principalmente Vettel, que ainda é moleque de tudo.