quarta-feira, 8 de dezembro de 2010
(Not) Just a Jealous Guy
Sou nascido em 1984, portanto não vi John Lennon vivo. Não se engane pela aparente banalidade desse fato, porque faz muita diferença na vida de todos que gostam (e conhecem) Rock ‘n’ Roll, o mínimo que seja. E percebi isso há pouco tempo, depois de ler, ouvir e ver muita coisa do Beatles e do Jôn, como meu pai diz (com som de “J” mesmo, não “Dj”).
Essa constatação também me faz quebrar o silêncio desse blog, desatualizado há quase um ano. Para isso, diversos motivos, nenhum que vale a pena citar. Mas, como eu disse no primeiro post desse endereço virtual, um blog nasce a partir da vontade de escrever. E ela veio agora, com tudo, nesse 8 de dezembro de 2010.
Não entrarei em detalhes sobre a obra de John, a morte violenta há 30 anos, as polêmicas, a relação com Yoko, assuntos que naturalmente inundam a imprensa nesses dias. Na verdade, tento entender e humildemente compartilhar o porquê da grandeza desse homem, que não mudou apenas a história do rock ou da música. Mais do que isso, fez boa parte do mundo acreditar no ser humano - o que parece quase impossível atualmente.
É importante ressaltar que John Lennon, acima de sua obra, foi a maior cabeça pensante do Rock ‘n’ Roll - na minha opinião, apenas Bob Dylan chega perto, mas o alcance de suas palavras foi muito mais restrito. Mesmo na fase pop e ingênua dos Beatles (desprezada por alguns), Lennon já se mostrava um cara inteligente, visionário, com domínio das palavras, de personalidade forte, eventualmente arrogante e até agressivo. Não raro, intimidava repórteres, assessores, músicos e mesmo pessoas próximas porque sempre parecia saber mais do que o outro. E sabia mesmo.
Foi assim que esse cara, principalmente depois de encontrar a parceira Yoko, fez a diferença na História. Sentiu a chegada do Verão do Amor, do movimento hippie, pediu paz em músicas (“Give Peace a Chance”, “All You Need is Love”) cujas letras, infelizmente, parecem piegas 40 anos depois. Podem até ser, mas a culpa não é dele, e sim do mundo, que não dá a mínima mostra de absorção dessas mensagens tão simples quanto verdadeiras.
Viu chegar a era dos protestos, com a juventude inflamada. Puxou o coro e começou a exigir paz, mas pediu calma aos mais violentos (“but when you talk about destruction, don’t you know that you can count me out”). Depois, se desiludiu com tudo: renegou os Beatles por um tempo após o fim da banda, disse que só acreditava nele e na Yoko, passou a deixar a música um pouco de lado. Chegou a brigar com Yoko. Se afundou nas drogas pesadas, bebia muito, injetava também, mas conseguiu ficar longe do fundo poço. Voltou com Yoko, viu o nascimento do filho Sean. Para acompanhar seu crescimento, e impedir o que aconteceu com o filho do seu outro casamento, o ignorado Julian, largou a música por cinco anos.
Deu uma sumida, mas nunca se calou. Alfinetou políticos, continuou a falar sobre a necessidade de melhorar o mundo, criticou as guerras, a estupidez do ser humano, o preconceito. Brigou, inclusive, com a Justiça americana; queria viver em Nova York, onde se sentiu acolhido. Venceu porque convenceu, como sempre. Ele era o cara que sempre tinha algo a dizer, e todos paravam pra ouvir.
Incrivelmente, a música foi apenas um detalhe (e que detalhe!) na grandiosa (e põe grandiosa nisso!) vida da maior cabeça-pensante da história do Rock ‘n’ Roll. Sem ele, o estilo musical não teria tocado tanto a vida das pessoas e nem seria o fenômeno que ainda atinge as novas gerações. Lennon mostrou que o Rock tinha voz ativa na sociedade ocidental, a qual ambos influenciaram profundamente.
Eu não vi John Lennon vivo. E sabe por que faz diferença? Porque eu não conheci esse mundo de esperança, esse mundo que acreditava que o mais famoso Beatle poderia fazer a diferença, não fecharia os olhos para as injustiças, continuaria incomodando os poderosos - e sempre com uma imensa quantia de seguidores.
O mundo ficou pior e perdeu muito da esperança após o dia 8 de dezembro de 1980. Mas a gente ainda crê, mesmo tendo nascido depois. John Lennon nos fez acreditar numa sociedade melhor e mais justa.
E, no fim das contas, ele se considerava apenas um cara ciumento, como qualquer outro, porque era igual a todos - apesar de ter sido tudo isso descrito acima.
EM TEMPO: Nos Beatles e fora deles, prefiro as músicas do Paul.
quarta-feira, 24 de fevereiro de 2010
Há 30 anos: Permanent Waves
"Begin the day with a friendly voice..."
Pequena intro
Lembro muito bem a primeira vez que ouvi "The Spirit of Radio". Em 2000, estava no Guarujá com meu primo e decidi comprar um disco do Rush, que eu conhecia pouca coisa - alguns hits e um pouco dos álbuns "Fly by Night" (1974) e "Presto" (1989). Comprei o "Retrospective vol. 1" (1997), que abria logo com essa música.
Ela me chamou muito mais a atenção do que as outras, das quais não gostei tanto. Virei fã mesmo do Rush em 2002, naquele show no Morumbi, quando descobri o que existia por trás daqueles trio de nerds com aparência de que apanhavam na escola. A sint0nia com o público, a precisão e sentimento em cada nota, acorde... os caras eram muito especiais, apesar do meu porre homérico daquela noite.
Estava eu deitado nas arquibancadas do Morumbi, buscando forças para melhorar, e aquela introdução me levantou. De repente, estava mais sóbrio do que padre em dia de missa. Embromava aquela letra difícil, mas poética, que tinha trechos como "one likes to believe in the freedom of music", frase que estabeleci como lema para a vida.
Saí de lá já pensando em quais discos comprar para iniciar minha coleção - até então, só tinha os dois "Retrospective". Os primeiros foram os ao vivo "Exit... Stage Left" (1981) e "All the World's a Stage" (1976). Depois, veio "2112" (1976) e, finalmente, "Permanent Waves" (1980).
Desde então, é minha banda favorita.
O disco
Rush - Permanent Waves - 01/01/1980
Qualquer disco que comece com "The Spirit of Radio" empolga, mas nesse eles se superaram. Após toda a complexidade de "Hemispheres" (1978), "Waves" deixou tudo mais simples. Duas canções bem para cima ("Spirit" e "Freewill") anunciavam o início da positiva década de 80 - o álbum foi lançado, simbolicamente, em 1 de janeiro de 1980.
A homenagem à música feita na primeira música se transforma em um hino pelo livre-arbítrio na segunda. "Freewill" tem um dos melhores solos da carreira de Alex Lifeson, que trouxe mais melodia em "Waves" - característica ainda mais clara no disco seguinte, o clássico "Moving Pictures" (1981).
Além de escrever a letra e transformar a bateria quase em um instrumento melódico que duela com guitarra, baixo e teclado, Neil Peart faz questão de buscar uma levada independente em "Freewill".
"Jacob's Ladder" fecha o lado A de forma um pouco sombria e dá mais ênfase às passagens instrumentais, mais curtas nesse disco do que nos anteriores. Mesmo assim, uma sequência rítmica quase impossível de decorar, no meio da canção, mostra o Rush ainda buscando o próprio limite da virtuose musical, sempre com bom gosto.
O lado B começa leve, com a romântica "Entre Nous" e a sutil "Different Strings", que tem no piano Hugh Syme, o artista que elaborou quase todas as capas do Rush. Apesar de "Entre Nous" ser quase uma canção de amor, ela também traz o lado individualista de Peart ao pedir que o casal da história fique junto, mas resguarde sempre suas próprias vidas e personalidades. A música ganhou importância na história da banda quando apareceu ao vivo, pela primeira vez, em 2007, nos set lists da turnê "Snakes and Arrows".
"Natural Science" encerra o disco retomando os temas longos e complexos dos álbuns anteriores, mas com um pé na modernidade. Ela também tem menos solos do que se pode esperar de uma música de dez minutos no Rush, sendo bem equilibrada nesse sentido. Não à toa, virou um clássico e não sai dos shows desde meados da década de 90.
Na arte da capa, destaque para o jornal com a (hoje apagada) inscrição "Dewey Defeats Truman", manchete do Chicago Tribune em 03/11/1948. Naquele ano, o democrata Harry Truman derrubou os primeiros prognósticos e venceu a eleição para presidente dos EUA. O jornal, por sua vez, se deu mal ao publicar a notícias antes da hora, apostando no republicano Thomas Dewey.
Na capa original, parecia uma alusão aos erros humanos e às mudanças repentinas - temas recorrentes em "Waves", cujo título aparentemente contraditório ("Ondas permanentes") já brinca com essa relação. O Rush, no entanto, recuou e retirou a manchete da imagem do álbum, criada pelo já citado Hugh Syme.
O fato de "Permanent Waves" ter sido lançado justamente no primeiro dia dos anos 80 também é muito simbólico. Afinal, nada como iniciar uma nova década com um disco repleto de novidades e levemente influenciado por elementos do reggae e da new wave, bem mais escancarados a partir de "Signals" (1982). O trio se desgarra um pouco dos anos 70 e entra de cabeça na nova era - o disco é a ponte entre os dois períodos.
Por ser um disco de transição também entre o complexo e o simples, "Permanent Waves" funciona como "um pouquinho de tudo" da carreira do Rush, apesar de conter apenas seis músicas. O que poderia indicar falta de foco, no entanto, demonstra apenas a evolução do trio, que não abandonou as raízes dos anos 70.
E o Rush evolui com maestria, principalmente em "The Spirit of Radio" - que não sintetiza apenas "Waves", mas todo o rico universo musical dos canadenses.
terça-feira, 12 de janeiro de 2010
Tuvuca e sua vitrola chegam a 2010
É difícil iniciar 2010 com um texto positivo, depois de tantas desgraças naturais, impulsionadas por políticos desgraçados, atingindo nosso país. Mas, inspirado pela sempre bem-vinda nostalgia, tentarei.
Para isso, falarei da minha maior paixão. Como diz a minha biografia no Twitter, sou jornalista, mas o que importa mesmo é o Rock 'n' Roll. Cito a frase dita pelos automobilistas "life is racing, the rest is just waiting" e troco o "racing" por "rock 'n' roll". Afinal, tudo gira em torno de quanto dinheiro ganhar para ver quantos discos é possível comprar.
Sim, discos, e não cds. Sem querer menosprezar o cada vez mais esquecido compact disc, a minha vitrola, que eu ganhei de Natal da pessoa mais especial, a única que pensaria nesse presente perfeito, fez com que 2010 começasse de um jeito bem diferente. Não mais perderei tantas horas em lojas como a Fnac. Sebos do centro, aqui vou eu!
Já comprei algumas coisas novas, juntei as velhas aquisições familiares com as minhas e já ouvi um monte de bolacha, virando para o lado B sempre que o A acaba. É gostoso demais. Você consegue ver a música girando, fazendo o trajeto vinil-agulha-vitrola-caixa de som. É muito diferente. É muito melhor. E muito mais real.
Eu não tinha uma vitrola decente há uns dez anos, quando a de casa pifou de vez. Meu pai tentou arranjar outra, mas que nunca funcionou de verdade. A nova, no entanto, é especial.
É da Philips, e vira uma maleta para levar para qualquer lugar. A tampa se transforma nas caixas de som. Imagino que tenha sido o primeiro walkman de verdade - afinal, dá pra ligar até com pilha.
Dois dias antes de ganhar a vitrola, fui na galeria fazer compras de Natal para mim mesmo. E vi o vinil do "Permanent Waves', do Rush, por R$ 15. Levei e pensei "vou comprar um disco do Rush por mês até completar a coleção" (que já está completa em cd, diga-se). Parecia uma premonição.
Falarei mais do Permanent Waves em um futuro post, que resgatará a esquecida seção "Efemérides do Rock" - essa deverá ter novos capítulos em 2010. Por enquanto, continuo encantado com a vitrola.
Ela fechou um ano brilhante para mim no que diz respeito a Rock 'n' Roll. Foram os melhores shows que eu assisti do Iron Maiden (no Rio e em SP, que me inspiraram um dos melhores textos que já escrevi, na minha opinião) e do Kiss (o outro foi o de 1999). Também foi a primeira vez que eu presenciei Heaven and Hell (sensacional), Faith no More (também) e, principalmente, o AC/DC, que merece um futuro capítulo à parte.
Aliás, depois do AC/DC, eu fechei a série de bandas que eu realmente precisava ver ao vivo. E será difícil ver algo melhor do que Brian Johnson, Angus Young e os outros três. Mas continuarei indo atrás dos dinassouros em estádios e casas de show.
E, quando voltar para casa, ouvirei os discos na vitrola lembrando de 2009, um ano marcado pelas boas recordações de Rock 'n' Roll.
Para isso, falarei da minha maior paixão. Como diz a minha biografia no Twitter, sou jornalista, mas o que importa mesmo é o Rock 'n' Roll. Cito a frase dita pelos automobilistas "life is racing, the rest is just waiting" e troco o "racing" por "rock 'n' roll". Afinal, tudo gira em torno de quanto dinheiro ganhar para ver quantos discos é possível comprar.
Sim, discos, e não cds. Sem querer menosprezar o cada vez mais esquecido compact disc, a minha vitrola, que eu ganhei de Natal da pessoa mais especial, a única que pensaria nesse presente perfeito, fez com que 2010 começasse de um jeito bem diferente. Não mais perderei tantas horas em lojas como a Fnac. Sebos do centro, aqui vou eu!
Já comprei algumas coisas novas, juntei as velhas aquisições familiares com as minhas e já ouvi um monte de bolacha, virando para o lado B sempre que o A acaba. É gostoso demais. Você consegue ver a música girando, fazendo o trajeto vinil-agulha-vitrola-caixa de som. É muito diferente. É muito melhor. E muito mais real.
Eu não tinha uma vitrola decente há uns dez anos, quando a de casa pifou de vez. Meu pai tentou arranjar outra, mas que nunca funcionou de verdade. A nova, no entanto, é especial.
É da Philips, e vira uma maleta para levar para qualquer lugar. A tampa se transforma nas caixas de som. Imagino que tenha sido o primeiro walkman de verdade - afinal, dá pra ligar até com pilha.
Dois dias antes de ganhar a vitrola, fui na galeria fazer compras de Natal para mim mesmo. E vi o vinil do "Permanent Waves', do Rush, por R$ 15. Levei e pensei "vou comprar um disco do Rush por mês até completar a coleção" (que já está completa em cd, diga-se). Parecia uma premonição.
Falarei mais do Permanent Waves em um futuro post, que resgatará a esquecida seção "Efemérides do Rock" - essa deverá ter novos capítulos em 2010. Por enquanto, continuo encantado com a vitrola.
Ela fechou um ano brilhante para mim no que diz respeito a Rock 'n' Roll. Foram os melhores shows que eu assisti do Iron Maiden (no Rio e em SP, que me inspiraram um dos melhores textos que já escrevi, na minha opinião) e do Kiss (o outro foi o de 1999). Também foi a primeira vez que eu presenciei Heaven and Hell (sensacional), Faith no More (também) e, principalmente, o AC/DC, que merece um futuro capítulo à parte.
Aliás, depois do AC/DC, eu fechei a série de bandas que eu realmente precisava ver ao vivo. E será difícil ver algo melhor do que Brian Johnson, Angus Young e os outros três. Mas continuarei indo atrás dos dinassouros em estádios e casas de show.
E, quando voltar para casa, ouvirei os discos na vitrola lembrando de 2009, um ano marcado pelas boas recordações de Rock 'n' Roll.
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