terça-feira, 9 de junho de 2009

O homem não sabe voar

Acidentes aéreos costumam chocar muito as pessoas. Talvez porque todas se apavorem ao pensar na possibilidade de passar por uma situação dessas, sem nenhum controle ou saída.

Ainda mais em casos como o do AF 447 da Air France, que caiu na semana passada próximo a Fernando de Noronha, ou do voo 1907 da Gol, que se acidentou na mata da região centro-oeste do Brasil em 2006. Ambos ocorreram com o avião em plena altitude de cruzeiro, simplesmente despencando dez, nove quilômetros, rumo ao inevitável encontro com o desconhecido.

É verdade que a falta de referências visuais, que estão aparecendo só gora, ajudou a amenizar o choque por conta da queda do Airbus da Air France. Neste aspecto, muito pior foi o acidente com o voo 3054 da TAM, em 2007, que atingiu o brasileiro, particularmente o paulistano, no coração.


Aquele incêndio no prédio da TAM Express, com o Air Bus da mesma TAM inteiramente destruído em plena av. 23 de Maio (que na verdade se chama Washington Luís naquele trecho, mas é tudo 23 no fim das contas), confirmou um pesadelo para aqueles que passam de carro por ali e sempre temeram um acontecimento desses.

E meu texto, na verdade, é apenas para me colocar como uma dessas pessoas. Aquelas que se assustam de verdade com um acidente desse porte, e sonham frequentemente com isso. Quando o avião da TAM apareceu na tela da TV, meu pesadelo virou realidade, apesar de, na hora, a cobertura incessante dos Jogos do Pan-Americano do Rio me distrair.

Antes daquele início de noite de 17 de julho de 2007, sonhei diversas vezes com a imagem de um avião caindo na 23 de Maio ou na av. Bandeirantes. Não quero posar de Nostradamus nem nada, e digo que esse pesadelo era totalmente justificável e, acredito, não tinha nenhum teor premonitório. Até onde eu sei, pelo menos.


Cresci respirando aviação - na foto, sou eu, com uns quatro anos, segurando um pôster que tinha pendurado no meu quarto. Minha mãe trabalhou a vida inteira na Vasp e meu pai seguiu caminho parecido na área de logística. Quando criança, tinha o sonho de ser piloto e trabalhar no que é, para mim, a máquina mais sensacional já criada pelo homem. O foguete, que leva o homem para o espaço, é privilégio de quase ninguém, então perde.

Com o tempo, percebi que não tinha muito jeito para entrar no ITA, virar engenheiro, piloto, sei lá mais o quê. É coisa demais para aprender, preferi seguir na Comunicação, área menos técnica e "intelectual", digamos.

E também fui crescendo com esses acidentes cada vez mais sérios no Brasil, primeiro em 1996 e depois agora - desde o acidente da Gol até esse da Air France -, que expõem uma sequência de fatos lastimáveis, incluindo falhas, erros e tristes coincidências, que atingem o setor áereo do Brasil.

Em menos de quatro anos, batemos todo tipo de recorde negativo no que diz respeito a acidentes aéreos no país. É realmente triste ver que essa máquina tão sensacional da qual falei às vezes firma nossos pés no chão e mostram que nunca saberemos voar. O controle sempre será dos computadores e instrumentos da aeronave, sujeitos a falhas contra as quais não se pode fazer nada.

Hoje, sonhei de novo com um acidente de avião. Eles andam tão recorrentes na minha memória que eu nem me deixo mais enganar por eles. Na maioria das vezes, apenas acompanho o que está acontecendo, sempre compreendendo, de alguma forma, que aquilo não corresponde à realidade. Bem diferente daquela imagem de TV com o TAM em chamas ao lado de um aeroporto que significou tanto para mim durante a infância.

Talvez o leitor deste texto pense que estou indo contra a tese de que o avião é o meio de transporte mais seguro do mundo. Deixo claro que não quero negar as estatísticas e nem deixarei de curtir uma viagem de avião. Este é apenas um relato sobre esse medo de acidentes aéreos que, tragicamente, andam frequentes no Brasil.

E deixo aqui minhas palavras de sentimento para as famílias e amigos que perderam um ente querido em uma dessas tragédias.


Fotos:

Destroço do Airbus voo AF 447 - 07/06/09-AP

Airbus do voo 3054 em chamas - 17/07/07-Apu Gomes/Folha Imagem

Jovem Tuvuca com o pôster do avião da Vasp - minha mãe, ou pai, entre 1988 e 1989

Avião da FAB pousa em Fernando de Noronha após trabalhos de busca - 06/06/09-Bruno Domingos/Reuters

Um comentário:

Anônimo disse...

Achei que tinha começado a gostar de aviação durante o caos aéreo em março de 2007. hahahah