quarta-feira, 24 de fevereiro de 2010

Há 30 anos: Permanent Waves


"Begin the day with a friendly voice..."

Pequena intro

Lembro muito bem a primeira vez que ouvi "The Spirit of Radio". Em 2000, estava no Guarujá com meu primo e decidi comprar um disco do Rush, que eu conhecia pouca coisa - alguns hits e um pouco dos álbuns "Fly by Night" (1974) e "Presto" (1989). Comprei o "Retrospective vol. 1" (1997), que abria logo com essa música.

Ela me chamou muito mais a atenção do que as outras, das quais não gostei tanto. Virei fã mesmo do Rush em 2002, naquele show no Morumbi, quando descobri o que existia por trás daqueles trio de nerds com aparência de que apanhavam na escola. A sint0nia com o público, a precisão e sentimento em cada nota, acorde... os caras eram muito especiais, apesar do meu porre homérico daquela noite.

Estava eu deitado nas arquibancadas do Morumbi, buscando forças para melhorar, e aquela introdução me levantou. De repente, estava mais sóbrio do que padre em dia de missa. Embromava aquela letra difícil, mas poética, que tinha trechos como "one likes to believe in the freedom of music", frase que estabeleci como lema para a vida.

Saí de lá já pensando em quais discos comprar para iniciar minha coleção - até então, só tinha os dois "Retrospective". Os primeiros foram os ao vivo "Exit... Stage Left" (1981) e "All the World's a Stage" (1976). Depois, veio "2112" (1976) e, finalmente, "Permanent Waves" (1980).

Desde então, é minha banda favorita.

O disco

Rush - Permanent Waves - 01/01/1980


Qualquer disco que comece com "The Spirit of Radio" empolga, mas nesse eles se superaram. Após toda a complexidade de "Hemispheres" (1978), "Waves" deixou tudo mais simples. Duas canções bem para cima ("Spirit" e "Freewill") anunciavam o início da positiva década de 80 - o álbum foi lançado, simbolicamente, em 1 de janeiro de 1980.

A homenagem à música feita na primeira música se transforma em um hino pelo livre-arbítrio na segunda. "Freewill" tem um dos melhores solos da carreira de Alex Lifeson, que trouxe mais melodia em "Waves" - característica ainda mais clara no disco seguinte, o clássico "Moving Pictures" (1981).

Além de escrever a letra e transformar a bateria quase em um instrumento melódico que duela com guitarra, baixo e teclado, Neil Peart faz questão de buscar uma levada independente em "Freewill".

"Jacob's Ladder" fecha o lado A de forma um pouco sombria e dá mais ênfase às passagens instrumentais, mais curtas nesse disco do que nos anteriores. Mesmo assim, uma sequência rítmica quase impossível de decorar, no meio da canção, mostra o Rush ainda buscando o próprio limite da virtuose musical, sempre com bom gosto.

O lado B começa leve, com a romântica "Entre Nous" e a sutil "Different Strings", que tem no piano Hugh Syme, o artista que elaborou quase todas as capas do Rush. Apesar de "Entre Nous" ser quase uma canção de amor, ela também traz o lado individualista de Peart ao pedir que o casal da história fique junto, mas resguarde sempre suas próprias vidas e personalidades. A música ganhou importância na história da banda quando apareceu ao vivo, pela primeira vez, em 2007, nos set lists da turnê "Snakes and Arrows".

"Natural Science" encerra o disco retomando os temas longos e complexos dos álbuns anteriores, mas com um pé na modernidade. Ela também tem menos solos do que se pode esperar de uma música de dez minutos no Rush, sendo bem equilibrada nesse sentido. Não à toa, virou um clássico e não sai dos shows desde meados da década de 90.

Na arte da capa, destaque para o jornal com a (hoje apagada) inscrição "Dewey Defeats Truman", manchete do Chicago Tribune em 03/11/1948. Naquele ano, o democrata Harry Truman derrubou os primeiros prognósticos e venceu a eleição para presidente dos EUA. O jornal, por sua vez, se deu mal ao publicar a notícias antes da hora, apostando no republicano Thomas Dewey.

Na capa original, parecia uma alusão aos erros humanos e às mudanças repentinas - temas recorrentes em "Waves", cujo título aparentemente contraditório ("Ondas permanentes") já brinca com essa relação. O Rush, no entanto, recuou e retirou a manchete da imagem do álbum, criada pelo já citado Hugh Syme.

O fato de "Permanent Waves" ter sido lançado justamente no primeiro dia dos anos 80 também é muito simbólico. Afinal, nada como iniciar uma nova década com um disco repleto de novidades e levemente influenciado por elementos do reggae e da new wave, bem mais escancarados a partir de "Signals" (1982). O trio se desgarra um pouco dos anos 70 e entra de cabeça na nova era - o disco é a ponte entre os dois períodos.

Por ser um disco de transição também entre o complexo e o simples, "Permanent Waves" funciona como "um pouquinho de tudo" da carreira do Rush, apesar de conter apenas seis músicas. O que poderia indicar falta de foco, no entanto, demonstra apenas a evolução do trio, que não abandonou as raízes dos anos 70.

E o Rush evolui com maestria, principalmente em "The Spirit of Radio" - que não sintetiza apenas "Waves", mas todo o rico universo musical dos canadenses.

4 comentários:

Adriele disse...

ou, cadê a promoção do meu blog no seu?
hunf

Marcelo Tuvuca disse...

Pronto =)

Eduardo disse...

Desculpe a demoramas só agora descobre o blog.
Seja bem vindo aos "rushmaníacos". Existem varios sites dedicados a eles dos quais posso te recomendar o T4E (t4e.com.br).
Quanto ao show, só uma ressalva. Ele foi no dia 22 de Outubro de 2002 no estádio do Morumbi (eu tamb'm estava lá).
Abs.

Edu. Pereira.

Marcelo Tuvuca disse...

Valeu, Edu, arrumei lá. Confundi o ano do show com o ano do lançamento do Rush in Rio, creio. Conheço muito bem o Test 4 Echo, já visitei mil vezes e acho que fui até em um festa do site, no Blackmore se não me engano.

Abraço, e visite outras coisas do Rush no blog (é só clicar na tag "rush").