segunda-feira, 31 de março de 2008

Os 60 anos de Mel Galley

Reproduzo abaixo texto enviado ao Rock Tales, do amigo e ex-colega de Grande Prêmio Bruno Vicaria. De lá (fevereiro, quando escrevi o texto) para cá, pouca coisa mudou. Apenas que, aparentemente, ele conseguiu o que era mais importante nesse momento da sua vida. Chegou aos 60 anos.

Abaixo segue o texto sobre quem é Mel Galley e o que ele tem passado nos últimos meses.

O triste adeus de Mel Galley

Mel Galley é um guitarrista britânico, nascido em Canock, na Inglaterra, em 8 de março de 1948. Ou seja, está próximo de completar 60 anos. Ficou famoso por tocar algum tempo com o Whitesnake, mas se destacou mesmo em sua banda anterior, o power trio Trapeze, ao lado de Glenn Hughes (baixista, que foi do Trapeze para o Deep Purple) e Dave Holland (baterista, que foi do Trapeze para o Judas Priest).

Infelizmente, esse aniversário do guitarrista pode não acontecer. No começo deste mês, Galley revelou que está com câncer terminal e tem poucos meses de vida. Além disto, escreveu uma carta de despedida aos seus fãs. Reproduzo a nota abaixo, traduzida pela Rock Brigade.

"Os médicos já diagnosticaram minha condição como 'terminal', porém, em vez de ficar sentado me lamentando, quero usar da melhor maneira possível o tempo que me resta com minha família e meus amigos. Fui abençoado com uma esposa fantástica e dois filhos de quem me orgulho muito, por isso, no momento, meu grande objetivo é conseguir celebrar meu aniversário de 60 anos em março. Eu tive uma vida muito boa, viajei o mundo inteiro, tive experiências maravilhosas, encontrei todo tipo de gente e toquei com os melhores músicos. Quando comecei, nos anos 60, jamais imaginei que poderia chegar tão longe. Não esquecerei experiências como tocar para 100 mil pessoas em Dallas (Texas) no mesmo festival com Rolling Stones, The Eagles e Montrose, em 1975. Também foi inesquecível o Monsters Of Rock (Inglaterra) de 1983, quando eu estava no Whitesnake. São tantos tesouros em minha vida que seria impossível lembrar de todos."

"Depois que minha doença foi divulgada, recebi mensagens do mundo inteiro, inclusive de amigos com quem eu não falava há muitos anos. Eu honestamente não imaginava que tantas pessoas ainda se lembravam de meu trabalho e apenas sinto não poder tocar todos os shows que eu havia planejado para este ano", diz ele, para finalizar: "Agradeço a todos pelo apoio ao longo de tantos anos. Vocês são a música, eu apenas estava numa banda".

Essa frase final de Galley é uma referência a uma das músicas mais famosas do Trapeze, de nome "You Are the Music, We`re Just the Band", também o título do terceiro álbum do grupo.
Na verdade, o Trapeze começou com cinco integrantes. A viagem do primeiro disco (de 1970), ainda um pouco na veia pop/psicodélica dos anos 1960, pode não ter sido a melhor das estréias. Mas, quando a banda se estabeleceu apenas com Galley, Hughes (também vocalista, além de baixista) e Holland, as coisas começaram a funcionar.


Muito influenciado pelo funk, o trio gravou dois clássicos: Medusa (1970) e o já mencionado You Are the Music, We`re Just the Band. Basicamente, são dois discos pesadões de funk rock, com ótimas baladas e uma pegada soul no vocal de Hughes, o que ele também carregaria consigo para o Deep Purple (para desespero de Ritchie Blackmore).

Como registro, deixo as músicas "Your Love is Alright", "Touch my Life", "Seafull", "Black Cloud", "Way Back to the Bone", "Coast to Coast" e a própria "You Are the Music" para se conhecer um pouco mais sobre essa banda. Vale a pena ouvir. Para mim, o Trapeze lembra um pouco aqueles bons times de futebol do interior onde vários jogadores aparecem em um determinado campeonato e aí vem os times grandes e compram os caras. E cada um segue um caminho diferente.

Foi isso que aconteceu com a banda. Primeiro, Hughes zarpou para o Purple, no lugar de Roger Glover, que saiu junto com Ian Gillan. Gravou três discos com os caras, trouxe as influências funk para a banda, mas quando o Purple encerrou as atividades em 1976, por causa das fracas perfomances ao vivo na turnê do ótimo Come Taste the Band (1975), aliadas aos sérios problemas de Hughes e do guitarrista Tommy Bolin com as drogas. Bolin morreu de overdose de heroína em dezembro de 76, oito meses após o fim do Deep Purple, que só voltaria (com a formação clássica e sem Coverdale e Hughes) em 1984.

Nesse meio tempo, o Trapeze continuou batalhando, lançando mais alguns discos com uma nova formação. Depois de se reunir rapidamente com Hughes após o fim do Purple, a banda seguiu sem seu baixista original, gravou mais um álbum (Hold On, 1978) e encerrou as atividades no final da década de 1970, quando Holland seguiu para o Judas. Depois, Galley se juntou ao Whitesnake.

Enquanto Hughes batalhou contra as drogas e cantou com todo mundo, Holland se deu bem no Judas, apesar de sofrer algumas críticas devido ao jeito "durão" de tocar. Depois de sair do Priest para dar lugar ao "metal" Scott Travis, Holland se reuniu por algum tempo com Hughes e Galley, em 1991, e depois acabou ficando famoso por ter sido preso há uns três anos, acusado de abusar sexualmente de um aluno de bateria de 17 anos.

Quanto a Galley, que motivou esse post, ele entrou no Whitesnake por volta de 1982, no lugar do guitarrista Bernie Marsden, fazendo dupla com o outro guitarrisa, Mick Moody. Essa ainda era a fase mais blues do grupo de David Coverdale, mas que já caminhava em direção ao hard rock "poser". Galley gravou um pedaço de Saints and Sinners (1982) e outro pedaço de Slide It In (1984). Digo "pedaço" porque ambos os álbuns foram produzidos em um momento de mudança de formação do Whitesnake, não ficando muito claro o que foi gravado por quem. De qualquer maneira, Galley escreveu diversas músicas de Slide It In em parceria com Coverdale, como a clássica "Love Ain`t No Stranger".


A saída de Galley da banda foi, no mínimo, estranha. De acordo com a biografia do Whitesnake escrita por Vitão Bonesso, na seção "Background" da edição número 22 da revista Roadie Crew (julho/agosto 2000), Galley brincava com carrinhos de supermercado com John Sykes (que tinha entrado no Whitesnake na vaga de Mick Moody) em um dia de folga da banda, depois de tomarem umas e outras, no início de 1984. Sykes acabou passando com um carrinho por cima da mão esquerda de Galley, que teve todos os seus tendões rompidos. Ele acabou não retornando mais à banda, até porque já havia brigado com Coverdale por causa da versão norte-americana de Slide It In, onde muitos de seus trechos de guitarra desapareceram devido a problemas com produtores e remixagens. Acabou perdendo a histórica apresentação da banda no Rock in Rio, em janeiro de 1985.

De qualquer maneira, Galley tocou no festival Monsters of Rock de 1983, onde o Whitesnake foi o headliner. Foi o show mais famoso que o guitarrista fez enquanto esteve na banda, até citado pelo mesmo em sua carta de despedida. Carta essa que é emocionante, encorajadora e, ao mesmo tempo, triste. Mas como ele mesmo disse, o cara fez de tudo na vida. Depois de tanto Rock 'n' Roll, que Mel Galley descanse em muita paz.

Um comentário:

regina claudia brandão disse...

marcelo, usei seu texto no meu rebloggando. faz uma visita lá pra saber que onde ele está é de confiança. adorei aqui. vou guardar. bj.