quarta-feira, 9 de abril de 2008

Massa é o Brasil na F-1?

A vitória de Felipe Massa no GP do Bahrein gerou, acima de tudo, a reação do brasileiro na temporada 2008 da F-1. Uma postura madura após a corrida, de alguém que entendeu que precisava demonstrar força depois de um início tão ruim, foi tão benéfica quanto a vitória em si.

Massa não comemorou levantando os punhos, vibrando, pulando, apontando os dedos. Vibrou de forma contida. Sabe que está a nove pontos do líder, ninguém menos que seu parceiro Kimi Raikkonen. Um cara que, mesmo quando faz corridas apagadas como aconteceu neste domingo, consegue arrancar pontos importantes. Além disso, existem quatro pilotos classificados entre Massa e Raikkonen: a dupla da McLaren e a da BMW.

Tudo isso também demonstrou que Massa não é o piloto desastroso que se mostrou na Austrália e na Malásia. É rápido, principalmente nos treinos, mas ainda muito irregular nas corridas. É raro ele se comportar como aconteceu no domingo, quando, mesmo saindo em segundo, conseguiu largar bem e resistir à pressão de seu companheiro finlandês. Pode lutar pelo título, mas precisa usar a mesma arma de Raikkonen: regularidade. Precisa pontuar em mais corridas, e não ganhar uma e abandonar a outra. Para mim, o finlandês ainda é favorito, até por sua experiência.

Com toda a análise Massa-Bahrein encerrada, vamos ao mérito da questão (apontada no título). Felipe Massa é o Brasil na F-1? Extendo a mesma pergunta aos outros dois brasileiros na categoria, Rubens Barrichello em final de carreira e Nelsinho Piquet em começo.

A resposta é: o Brasil não está na F-1. Ela tem três pilotos brasileiros, e é isso, ponto final. Chega a ser irritante ouvir coisas do Galvão do tipo "agora quero ver aqueles que criticaram o MASSA!!!!". Ouvir o quê? Ouvir que ele cagou nas duas primeiras corridas e tá em sexto no campeonato por causa disso? Nada mudou com relação aos GPs da Austrália e Malásia. Os erros de Massa não foram apagados.

No final da corrida, com tudo o que foi dito anteriormente, Felipe mostrou ter consciência do mau momento que atravessou no início da temporada. E que precisa ser constante para entrar de verdade na briga pelo campeonato.

Não importa o que diga a televisão ou mesmo a rádio. Massa não está na F-1 para dar um título ao Brasil. Ele não deve isso ao país, que, aliás, não tem nenhuma categoria-base que preste para os seus pilotos. A F-Renault, por exemplo, foi extinta pela própria montadora francesa, e nada que chegue ao seu nível foi construído em substituição. Não existe interesse da CBA, infelizmente.

Teve um cara que assumiu sim o país na categoria, com sucesso. Ayrton Senna colocava o Brasil na F-1. Puxava a bandeira a cada vitória, dedicava todas as suas conquistas aos brasileiros, criava rixas contra a França do (agora) finado Balestre e de Prost. Alguns consideram isso a maior de todas as demagogias (além de oportunismo), outros consideram patriotismo. Se é certo ou errado, não importa. Senna se garantia no volante e também no jogo de cintura, conseguindo colocar grande parte dos brasileiros, em uma época totalmente diferente da atual, ao seu lado.

Não se pode cobrar isso de Massa ou Nelsinho. Nem de Barrichello, apesar de ele mesmo ter feito isso depois da morte de Senna. São todos bons pilotos. Massa pode até ser campeão nesse ano. Mas ainda está longe do nível de Raikkonen e mais ainda do de Fernando Alonso, que sofre nesta temporada na Renault. Sem contar a molecada que ataca a F-1, como Vettel, Kubica, Rosberg...

E ainda que fosse melhor que Schumacher, Senna, Clark, Prost e Piquet juntos, Felipe não teria a mínima obrigação de exaltar o próprio país a cada conquista.

Massa, mesmo que leve o título, não será Senna e nem o Brasil na F-1. Ainda bem, diga-se. Ele tem sua própria personalidade, com defeitos e qualidades.

Cabe aos brasileiros e aos locutores-torcedores (no plural mesmo) aceitarem ambos.

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