terça-feira, 20 de maio de 2008

Ozzy Osbourne em SP


Presenciei a passagem de Ozzy por terras paulistanas no último dia 5 de abril, no Parque Antarctica. Para mim, minha primeira experiência cobrindo shows no Brasil, já que fui lá pela Folha Online, onde publiquei um review sobre o show, reproduzido abaixo.

Sempre gostei muito da carreira solo do Ozzy, onde ele seguiu um caminho diferente do Black Sabbath e de muita personalidade. Para mim, "Blizzard of Ozz", o primeiro disco (1980), é um dos álbuns mais consistentes do rock 'n' roll e ajudou a reerguer a carreira do "Madman" após sua saída traumática do Sabbath. Contou com uma banda extremamente talentosa, que incluía Randy Rhoads (guitarra), Bob Daisley (baixo), Lee Kerslake (bateria) e Don Airey (teclado, hoje no lugar de Jon Lord no Deep Purple).

Entre os outros discos dos anos 80 e início dos 90, nenhum deles é tão regular quanto o primeiro, apesar de "Diary of a Madman" (1981), "Bark at the Moon" (1983) e "No More Tears" (1992) serem ótimos, com vários clássicos do vocalista. Depois disso, já não me interesso muito pelo resto. Quanto mais recente, pior.

Mas o que estava em jogo mesmo era a disposição, a saúde e a energia de um maltratado Ozzy. Maltratado por uma vida das mais malucas que o rock 'n' roll conheceu, chegando a passar perto da morte algumas vezes. Mas que não evitou a demonstração do vocalista de que ele é acima de tudo isso e que sabe como poucos controlar uma platéia. Talvez o músico mais carismático que eu vi subir ao palco.

Foquei minha crítica nisso, no quanto sua idade não influencia em seu show, mesmo com limitações vocais que Ozzy sempre teve - e que, na verdade, nunca o atrapalharam em sua carreira de sucesso. Ainda mais para o público heavy metal, que respeita muito os atos e a postura de seus ídolos, em detrimento da técnica musical absurda ou exibicionista. Para o fã, em termos gerais, não é isso que conta.

Tudo o que conta foi demonstrado por Ozzy Osbourne no sábado retrasado. E é isso que eu relato em meu review, publicado na Folha Online, e que segue abaixo. Na FOL, tem também os (pequenos) reviews do Korn e do Black Label Society, que abriram as apresentações.

Sem mais delongas, segue o texto.

PS: As fotos são do Marcos Borges, da FOL, que me deu uma grande força no show.

Pioneiro do metal, Ozzy Osbourne demonstra energia em show de SP

MARCELO FREIRE
Colaboração para a Folha Online

Após uma ausência de 13 anos, o cantor Ozzy Osbourne, ex-Black Sabbath, voltou a tocar em São Paulo neste sábado (5), no estádio Parque Antarctica. Uma história que envolve mordidas em um morcego e uma pomba, muitos problemas com drogas, um reality show e bastante rock 'n' roll subiu ao palco no campo do Palmeiras.

Apesar de todas as limitações do vocalista, no alto de seus 59 anos, cerca de 38 mil pessoas foram reverenciar o "príncipe das trevas", que ajudou a criar imagens e símbolos da música pesada. Além de ser um dos pioneiros a executá-la, claro, ainda com o Black Sabbath.


Ozzy já havia passado pelo Brasil em 1985 (no Rock in Rio) e dez anos depois, na segunda edição do finado festival Monsters of Rock, em São Paulo. Dessa maneira, uma geração de jovens fãs brasileiros teve a oportunidade de conferir ao vivo, pela primeira vez, um dos pioneiros do heavy metal.


A abertura ficou com as bandas Black Label Society (liderada pelo guitarrista de sua banda, Zakk Wylde) e Korn. Mesmo com as diferenças de estilo, ambas se saíram bem no papel de "esquentar" o público, que queria mesmo ver a atração principal.


Ozzy Osbourne

O ex-vocalista do Black Sabbath sabe que sua imagem está acima de tudo em sua biografia. Com todas as loucuras envolvendo sua vida pessoal, o cantor criou um mito em torno de si que supera até mesmo seus sucessos musicais. Consciente disso, Ozzy utiliza do carisma para ganhar o público mesmo antes de entrar no palco, com um vídeo no qual o cantor faz paródias de diversos filmes e seriados famosos, como "Borat", "Família Soprano" e "Lost".


A introdução "Carmina Burana" prepara o público para a abertura do set list, com "I Don't Wanna Stop", do disco mais recente de Ozzy Osbourne, "Black Rain" (2007). O hit "Bark at the Moon" vem em seguida, e o cantor demonstra logo suas limitações vocais em músicas que exigem mais de sua voz, como é o caso dessa, a qual Ozzy se esforça muito para executar.

Zakk Wylde, na banda há bastante tempo, também se destaca no show, assim como a "cozinha" formada pelo baterista Mike Bordin (ex-Faith No More), Rob "Blasko" Nicholson (baixo) e o tecladista Adam Wakeman, filho de Rick Wakeman (conhecido por seu trabalho nos teclados do Yes e com uma bem-sucedida carreira solo).


O vocalista se encarrega de puxar o coro "olê, olê, olê", respondido pela platéia com "Ozzy, Ozzy", abrindo caminho para "Suicide Solution", de seu primeiro disco solo, "Blizzard of Ozz" (1980). Jogando baldes de água e gritando o tempo todo para o público, o cantor inicia um de seus maiores sucessos, "Mr. Crowley", cantado em uníssono pelos presentes.


Considerando sua imagem no reality show "The Osbournes", que protagonizava ao lado de sua família, Ozzy até surpreende, saltando o tempo todo no palco. De qualquer forma, sua forma física "relaxada" fica aparente pela grande barriga do vocalista.


"Not Going Away", do último disco, acalma os ânimos, que voltam a se levantar quando Ozzy pergunta se o público gostaria de ouvir uma música do Black Sabbath. "War Pigs", de 1970, traz nostalgia e sorrisos na platéia, que canta a canção junto com o vocalista.

A primeira balada do show é "Road to Nowhere", na qual Ozzy procura agradar o público se enrolando em uma bandeira brasileira. No grande sucesso "Crazy Train", o cantor deixa os fãs cantarem o refrão, talvez em busca de poupar um pouco a sua voz.

Com um sangramento nos dedos após sofrer um corte, Wylde deu início ao seu solo, que durou sete minutos, agradando alguns e cansando outros. "Iron Man", outro clássico da ex-banda, e "I Don't Know", que abre seu disco de estréia, "Blizzard of Ozz", voltaram a levantar os presentes no Parque Antarctica.

As últimas canções foram "No More Tears", "Here for You" (do último disco), "I Don't Want to Change the World", "Mama, I'm Coming Home" e "Paranoid" (do Black Sabbath), considerada por alguns como uma das primeiras canções heavy metal da história.

Concentrando o set list nos consistentes discos "Blizzard of Ozz" (1980) e "No More Tears" (1991), além das três canções do Sabbath e outras três do último disco, Ozzy soube segurar o público do início do show ao seu final, sempre incitando a platéia a gritar e cantar as músicas.

A passagem de Ozzy Osbourne por São Paulo se encerrou com uma promessa de retorno, não tão longo quanto os 13 anos entre o Monsters of Rock de 1995 e esta miniturnê, iniciada com um show no Rio de Janeiro e encerrada com a apresentação na capital paulista.

Mais importante do que a performance do vocalista foi a demonstração de energia aliada à sua imagem de mito do heavy metal, irreverente e carismático, que nunca se leva a sério.

Nenhum comentário: