segunda-feira, 22 de setembro de 2008

The Great Wright in the Sky


No último dia 15, foi-se Richard Wright, tecladista e um dos fundadores do Pink Floyd. Wright, sumido da mídia há algum tempo, padeceu de um câncer, em uma batalha curta, de acordo com informações de um porta-voz do músico.

Agora, mais de 40 anos após ter integrado uma das maiores bandas do Rock 'n' Roll de todos os tempos e que produziu uma obra de arte chamada The Dark Side of the Moon (1973), Rick Wright parece receber um pouco da atenção que mereceu durante todo esse tempo. Tanto de ex-membros da banda quanto da imprensa e da crítica em geral, incluindo a mídia especializada.

Digo isso porque sempre senti Wright como um dos músicos mais injustiçados e subestimados do rock, algo que aconteceu também porque este virou diminuto diante da imponência de Roger Waters no início dos anos 70 e da liderança de David Gilmour na década seguinte.

A saga de Wright no Pink Floyd se divide em três períodos: o início da banda, entre 1966 e 1975, da qual participu ativamente como compositor; o “ostracismo”, entre 1976 e 1983, quando chegou a ser demitido por Roger Waters e recontratado como músico de estúdio, além de ficar longe das composições da banda; e a fase coadjuvante, na nova encarnação do Floyd (sem Waters e com Gilmour liderando), que resultou nos álbuns A Momentary Lapse of Reason (1987) e The Division Bell (1994), época em que apenas figurou ao lado de Nick Mason em algo que pode ser chamado de “projeto solo” de David Gilmour.

Essa diminuição da importância do tecladista a partir de 1976 é, na minha opinião, inexplicável. As linhas de teclado de Wright ajudaram a compor a psicodelia comandada pelo ex-vocalista e guitarrista Syd Barret nos primeiros discos da banda. Nessa época, Wright também atuava nos vocais, geralmente fazendo backing.

Em Atom Heart Mother (aka “o disco da vaca, de 1970), Rick compôs, sozinho, o que é para mim a melhor canção daquele álbum: "Summer of ‘68". A música, que alterna momentos psicodélicos (herança do início da banda) com a sutileza de uma verdadeira balada, é até hoje (não sei exatamente o porquê) executada nas rádios brasileiras, mas totalmente esquecida pela banda. Não figura, por exemplo, na excelente coletânea Echoes (2001), e aparentemente nunca foi tocada ao vivo (até onde pesquisei, pelo menos).

No álbum seguinte, Meddle (1971), foi co-autor das duas músicas mais destacadas da obra: "One of these Days" e "Echoes", ambas compostas pelos quatro integrantes em parceria. Na segunda, Wright dividiu as linhas vocais com David Gilmour com maestria, em um belíssimo dueto, que voltaria a se juntar em "Time" e "Breathe" no disco seguinte, o já citado "The Dark Side of the Moon".

Foi nele que o tecladista compôs sua obra-prima, chamada "The Great Gig in the Sky", a qual este blog faz um trocadilho no título do post. Lá, Wright demonstrou toda sua técnica, auxiliada pelo histórico e emocionante solo da cantora Clare Torry, em uma música instrumental co-escrita por Roger Waters. O clássico "Us And Them" também surgiu da hoje inusitada dupla Waters/Wright.

Daí pra frente, ele foi deixado de lado, ou se deixou de lado, e viu Roger Waters assumiu a liderança do grupo. Brigou com o baixista, acusando-o de ditador, e este replicou dizendo que Wright simplesmente "não estava nem aí" para a banda. Estes atritos causaram a saída do tecladista (ou sua demissão) durante as gravações de "The Wall" (1979), onde foi creditado como músico convidado, voltando depois para a turnê da opéra-rock. Wright não participou do álbum-solo-de-Waters-com-o-nome-de-Pink-Floyd "The Final Cut" (1983).

O tecladista voltaria para o projeto Gilmour, que também incluiu o baterista Nick Mason, e co-escreveu cinco músicas em "The Division Bell" ("Cluster One", "What Do You Want From Me", "Marooned", "Wearing the Inside Out" e "Keep Talking"), nenhuma com o brilho de antes.

Richard William Wright, leonino, nascido em 1943, fez tudo isso pelo Pink Floyd, uma das bandas de rock que mais rompeu o universo da música para atingir outras formas artísticas, como cinema ("The Wall", o filme), artes plásticas (as capas dos discos) e teatro (a turnê de "The Wall").

No aspecto pessoal, suas linhas simples e marcantes me fizeram querer tocar teclado quando eu tinha 13 anos. Não consegui aprender praticamente nada, mas não esqueço daquele sentimento de moleque que me fascinava pela inteligência e concisão, algo que foi irradiado por todos os integrantes do Pink Floyd. Para mim, a criatividade de David Gilmour é a exceção. O Pink Floyd ensinou às bandas de rock como fazer do simples genial. E Wright, como já disse, é um símbolo disto tudo.

Além de esgotar as chances de a banda se reunir, já que seu membro menos carrancudo e mais animado se foi, a morte de Rick Wright o imortaliza como um coadjuvante em uma história na qual começou como um dos protagonistas. E sua trajetória declinante, aparentemente, nunca será esclarecida.

Agora, quem sabe, ele não receba o mérito do qual é de seu direito - um músico essencial para o Pink Floyd virar o que virou.

Um comentário:

Lucas G. de F. disse...

Pink Floyd Sem Rick Wright, Com Certeza Não Seria a Mesma Coisa...

Ele Era Fundamental Para Dar Clima as Musicas, Alem de Ter Uma Voz Bem Calma e Suave.

O Brilho de Seu Trabalho, Tbm Anda Me Inspirando a Aprender Teclado e Me Interessar Cada Vez Mais Pela Musica.