quarta-feira, 24 de setembro de 2008

Há 30 anos: Uma explosão australiana (1)

Australiana, marromeno. Angus e Malcom Young, além do vocalista Bon Scott, são escoceses que migraram para a Austrália. Mas montaram a banda em Sydney, isso é fato, o que faz deles australianos também.

O caso do AC/DC no "Há 30 anos" é um pouco diferente em relação ao do Judas e do Scorpions, porque vou postar sobre dois discos. Ambos foram lançados em 1978 e fizeram história. Naquela época, a banda vinha de uma escalada de sucessos que culminou com Let There Be Rock (1977), seu melhor disco até então, na visão deste blogueiro.

Consistente e recheado de clássicos (Whole Lotta Rosie, Let There Be Rock, Hell Ain't a Bad Place to Be, Problem Child), o terceiro álbum de estúdio da banda (quarto na Austrália) é daqueles de alavancar carreiras ao estrelato.

Mas falaremos das obras de 1978, Powerage (agora) e If You Want Blood You've Got It (daqui a algum tempo - espero que não seja longo).

AC/DC -Powerage - 25/05/2008



1. "Rock 'n' Roll Damnation" – 3:37
2. "Down Payment Blues" – 6:03
3. "Gimme a Bullet" – 3:21
4. "Riff Raff" – 5:11
5. "Sin City" – 4:45
6. "What's Next to the Moon" – 3:31
7. "Gone Shootin'" – 5:05
8. "Up to My Neck in You" – 4:13
9. "Kicked in the Teeth" – 4:03


Powerage pode não conter tantos hits em relação a Let There Be Rock, mas é tão consistente quanto. Um disco feito inteiramente de boas músicas, sem exceção, e alguns momentos brilhantes.

Começando pela chamativa e famosa capa. A imagem de Angus Young sendo "eletrocutado" é uma das mais marcantes da história da banda e ilustra com perfeição toda a energia exalada pelo AC/DC em seus shows (e pelo guitarrista também).

A abertura com Rock 'n' Roll Damnation é empolgante, denunciando o que vem a seguir nos próximos 40 minutos de música. O AC/DC não tenta nenhuma modificação ousada em seu som, pelo contrário. Volta a fazer em Powerage tudo aquilo que consagrou a banda nos discos anteriores: um blues acelerado com guitarras pesadas, encostando no heavy metal. Uma junção suja de Hard Rock, Heavy Metal, Rock 'n' Roll e Blues.

Down Payment Blues tem uma ótima letra, relatando a simplicidade e o desleixo, dois símbolos do grupo. Logo no início, Bon Scott canta you know I ain't doing much/doing nothing means a lot to me ("sei que não estou fazendo muito/não fazer nada significa muito para mim"), que cai bem para descrever quem sempre reverenciou o simples e ignorou o complexo.

Já a terceira faixa, Gimme a Bullet, assim como What's Next to the Moon (e Cold Hearted Man que só aparece em versões européias de Powerage), é apenas uma ótima música, que compõe o disco e não produz nenhum destaque específico.

Sin City, que também chegou a ser executada ao vivo com Brian Johnson, fala sobre Las Vegas ou qualquer cidade que tenha cassinos, mulheres e bebidas em geral. Um clássico. Vale prestar a atenção na letra, como é habitual quando se refere a Bon Scott.

O final do lado B, com Gone Shootin (conheci essa na trilha sonora do filme do Beavis and Butthead, que eu tenho até hoje), Up to me Neck in You e Kicked in the Teeth é um chute nos dentes, literalmente, cheio de energia. Começando com o groove da primeira, totalmente blues, passando pela simplicidade da segunda e chegando até a zeppeliana música final, que começa com um monólogo do vocalista e vai crescendo de acordo com a letra da canção. Um final perfeito para Powerage.

Riff Raff, por sua vez, ficou por último por ser uma das melhores composições da história da banda, e a grande canção de Powerage, ainda mais depois de virar música-abertura da turnê do álbum. Acabou imortalizada como primeira faixa do clássico If You Want Blood You've Got It, que ainda receberá destaque maior neste blog.

O nome da música é bem propício por contar com um dos marcantes riffs dos irmãos Young. É um blues bem acelerado, uma mistura de Kiss, Grand Funk Railroad e Led Zeppelin, mal comparando. O refrão, berrado por Scott, é marcante, fácil de cantar e com um interessante jogo de palavras. Já o solo de Angus é inspiradíssimo, com uma cozinha ritmada, quase que como uma big band do rock 'n' roll.

Aliás, se um dia eu fizer um top 10 com as melhores guitarras em canções, tenho certeza de que Riff Raff estará na lista.

Os últimos versos da música definem não apenas o disco, mas a banda inteira. Parece um recado do AC/DC para o mundo.

I never shot nobody, don't even carry a gun
I ain't done nothing wrong, I'm just having fun
Riff Raff
It's good for a laugh
Riff Raff
Go on and laugh yourself in half

Em pleno 1978, com explosão punk e tudo mais, o AC/DC queria lembrar a todo mundo que o rock 'n' roll é, antes de tudo, diversão.

PS: Fica aqui o registro de um ótimo review sobre o disco, produzido pelo site Stilus e escrito por Edwin Faust (em inglês). É uma visão diferente e muito mais aprofundada do que a minha, com uma completa análise das letras e contextualizando o período vivido por Bon Scott na época.

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