terça-feira, 9 de dezembro de 2008

Sobre a covardia


Essa imagem é emblemática demais para passar despercebida por este blog. Chocante. De causar indignação. Ainda mais quando lemos duas notícias de hoje sobre o assunto:



Também hoje, nosso querido José Roberto Arruda, do PFL (ou DEM, se preferir - é apenas uma sigla insignificante), governador do DF, "lamentou profundamente" o caso e ressaltou que ele "não pode mudar o fato de Brasília ser receptora de grandes eventos". Ainda citou SP e Rio como locais onde problemas semelhantes aconteceram.

Afinal, é disso que se trata. Copa-2014. O torcedor que busque sua sobrevivência, porque a culpa não é do governo. O negócio é ter um estádio para 20.000 pessoas em uma cidade-satélite com apenas um hospital, sem equipamentos adequados (segundo relatos de quem esteve lá) para receber Nilton César de Jesus, de 26 anos - este é o nome de mais uma vítima da violência no país.

O "acidente", que envolveu um sargento que tinha "ficha exemplar" na PM, conforme noticiaram alguns periódicos, não teve nada de acidente. Foi, sim, uma tentativa de homicídio. Uma covardia sem tamanha. Acho que o que vimos foi sim um infeliz "déja-vu" dos mais tristes e sangrentos anos da história brasileira. Talvez o sargento José Luiz Carvalho Barreto quisesse comemorar os 40 anos do AI-5, que serão completados no próximo dia 13.

Não quero causar sensacionalismo com o caso, para isso bastam as imagens, mas o que me chocou durante toda a história foi que o torcedor tomou um tiro na cabeça sem NENHUMA justificativa. Nas imagens flagradas pela TV Record, Nilton apenas corre durante a confusão, corre, e depois aparenta fugir do sargento, que lhe aponta a arma. Ele pára, ergue os braços, e sofre uma coronhada - agressão recorrente em filmes sobre mafiosos.

E aí que está o x da questão. Nilton, em nenhum momento, oferece resistência ao policial. O pecado dele é estar ali, aparentemente. O sargento chega, desfere a coronhada covardemente, mas, para seu "azar", a arma dispara. E pode ter causado uma morte, como acontece com armas de fogo.

Trabalhei um ano na Secretaria da Segurança Pública de SP, como estagiário, e fiz questão de aprender muito sobre as polícias. Sei, por exemplo, e isso é bem básico, que um policial NUNCA pode agredir alguém desarmado e que não ofereça resistência à prisão. Muito menos com uma coronhada. Fora dos filmes de chefões, na vida real, isso é coisa de bandido.

E por isso classifico o caso como tentativa de homicídio. O policial, primeiro, não tinha porque agredir o cidadão. Segundo, se agride com a arma, sabe da possibilidade de ela disparar. E atingir alguém. Que foi o próprio agredido. "Lesão corporal grave" é o caralho, me desculpem o termo. Se fosse um torcedor brigando com outro, e as câmeras flagrassem, assino embaixo que o cara seria acusado de tentativa de homicídio.

Last but not least, se alguém argumentar "ah, mas ninguém sabe o que o torcedor fez antes de aparecer na imagem", eu digo: não importa. Como eu disse: com o "suspeito" desarmado e sem oferecer resistência, o policial deveria ter apenas algemado o Nilton e levá-lo para a cadeia, para responder pelo que foi acusado.

Veremos o desenrolar do caso, que deve durar uns dez anos e pode até libertar o sargento - que já está livre para aguardar seu julgamento, como pede nossa Justiça. Pena que a vida de Nilton César de Jesus corre sério risco.

Como eu já disse anteriormente, o futebol é apenas um detalhe nesse brasil. Mas as coisas que o envolvem refletem perfeitamente o porquê de isso aqui ser a zona que é.

E hoje só se fala sobre Ronaldo. Ele é o assunto. Desculpe, Fenômeno, mas deixo você e o meu Corinthians para um outro dia.

2 comentários:

Comunicação Barbixas disse...

O cara morreu. Hoje de manhã.

Anônimo disse...

Realmente isso tudo é revoltante. Grande análise, meu caro.