terça-feira, 3 de junho de 2008

Há 30 anos: uma explosão Heavy Rock (1)

1978 foi um ano transitório para o rock. A queda do progressivo e de bandas de hard rock, dando lugar à simplicidade do punk e da new wave, além da dançante disco music, marcaram a fase 1976-1980 no estilo.

Alguns conseguiram sobreviver por um certo tempo, como o Pink Floyd. Outros resolveram dar um tempo, como Deep Purple e Yes. Mas uma leva de bandas novas, dos dois lados do Atlântico mesclaram diferentes influências do som pesado e revolucionaram o heavy rock.

Esse termo, na verdade, é apenas uma convenção para definir os anos que antecederam à explosão heavy metal, essa sim mais característica.

Nesse primeiro post, abordarei um dos destaques do primeiro semestre de 1978, já marcado por consistenstes lançamentos do heavy rock.

Scorpions - Taken By Force - 4/12/77

1. "Steamrock Fever" (Schenker/Meine) – 3:37
2. "We'll Burn the Sky" (Schenker/Dannemann) – 6:26
3. "I've Got to Be Free" (Roth) – 4:00
4. "The Riot of Your Time" (Schenker/Meine) – 4:09
5. "The Sails of Charon" (Roth) – 5:16
6. "Your Light" (Roth) – 4:31
7. "He's a Woman – She's a Man" (Schenker/Meine/Rarebell) – 3:15
8. "Born to Touch Your Feelings" (Schenker/Meine) – 7:40
Produzido por Dieter Dierks

Tudo bem, começo a série roubando logo de cara. Mas acho que a presença desse disco é essencial para o contexto heavy rock. E como ele saiu em dezembro de 77, quase 78, está incluso. Afinal, muitos o ouviram justamente no primeiro semestre de 78.

"Taken By Force" foi o último disco de estúdio do Scorpions antes da saída do guitarrista Uli Jon Roth. Marcou o fim da fase mais pesada da banda, que namorava com o heavy metal. A partir de "Lovedrive" (1979), as coisas começariam a ficar mais leves, grudentas e cadenciadas.

Dessa maneira, "Taken By Force" é a chance derradeira de ouvir os solos hendrixianos de Roth e sua pegada metal-cavalgante. O trabalho também é um sucessor natural dos clássicos "In Trance" (1975) e "Virgin Killer" (1976). Esses dois discos, respectivamente terceiro e quarto na história da banda, consolidaram o som característico do grupo nessa época. "Taken By Force", por sua vez, solidifica tais particularidades.

Chamo atenção para a capa, mais uma das polêmicas na carreira da banda. Foi censurada em alguns países por conter crianças apontando armas, "brincando" em um cemitério, sendo substituída por uma imagem da banda, sem graça por sinal. Outras capas censuradas da banda foram do "In Trance" (1975), "Virgin Killer" (1976 - essa é de extremo mal gosto, um dia posto sobre a história dela) e "Lovedrive".

O grande destaque do disco é a fantástica "He's a Woman, She's a Man", talvez o maior clássico da banda nessa primeira fase e que foi regravada pelos compatriotas do Helloween 20 anos depois. O peso e a velocidade, aliadas à letra bizarra, típica da banda, além das cavalgadas e do riff repetitivo, são as principais marcas da canção. Ela é realmente poderosa, principalmente ao vivo. Também chama a atenção o início fulminante da faixa e os gritos (de desespero?) do vocalista Klaus Meine, além de uma linha melódica vocal cheia de variações, beirando o desafinado. No refrão, no entanto, a coesão entre os integrantes "coloca tudo no lugar". A temática "traveca" é muito ousada, mesmo parecendo escrachada.

No mesmo estilo, está a faixa de abertura, "Steamrock Fever", cujas características são bem semelhantes a "He's a Woman, She's a Man", além do som de uma britadeira acompanhando a levada da bateria durante a música. Inserções de público e backing vocals também criam o clima de uma apresentação ao vivo, o que encorpa a canção.

Com uma pegada mais setentista aparecem "I've Got to be Free", "The Sails of Charon" e "The Riot of Your Time", que não têm a mesma consistência das duas faixas já citadas, mas garantem a solidez do álbum. As duas primeiras são composições de Roth, e "The Riot of Your Time" é da parceria Rudolf Schenker/Klaus Meine. Sem tanto brilho, mas com qualidade. São mais cadenciadas e repetitivas, mantendo o peso.

Uma das faixas que se destaca como diferente é "Your Light" (também de Roth), muito agradável, que alterna momentos mais sutis, com guitarras "limpas", e trechos pesados, cheios de distorção. Meine também alterna seu estilo de cantar, variando a pegada vocal ao longo dos quatro minutos e meio de música.

A balada é a última canção, "Born to Touch Your Feelings". Não é brilhante como as baladas posteriores do Scorpions, mas importante no desenvolvimento da banda com esse tipo de canção. De qualquer maneira, uma certa influência de Queen (antigo) e bandas mais progressivas também aparecem. O problema é a duração, com mais de sete minutos, o que cansa um pouco quem ouve. Na fase pop, a banda se deu melhor com as baladas, tanto na composição quanto no sucesso comercial.

Deixo por último "We'll Burn the Sky", segunda faixa do álbum. Para mim, esse é um ponto de virada na banda. Pela primeira vez em sua carreira, o Scorpions acerta a mão de verdade em uma música na qual caminha em diversos estilos. Ela começa balada, vira uma espécie de reggae acelerado, bem pontuado pela guitarra de Uli Jon Roth (e a bateria de Herman Rarebell), retorna aos arpeggios do início, chega aos solos e termina de forma explosiva. Principalmente na última estrofe da letra, romântica e psicodélica ao mesmo tempo.

I know we've never been apart
Your love sets fire to my heart
We'll burn the sky, when it's time for me to die
We'll burn the sky

A letra é bela, por sinal, apesar do inglês limitado. Não da banda, neste caso. A música foi escrita por Monika Dannemann, última namorada de Jimi Hendrix antes de sua morte, da qual, inclusive, foi considerada suspeita. O suposto suicídio de Monika, em 1996, também envolve circunstâncias obscuras. De qualquer maneira, ela era namorada de Uli Jon Roth em 1978 e colaborou com o guitarrista na época.

Aliás, eu acabei de descobrir tudo isso, depois que li que tinha sido "um tal de Dannemann" que tinha sido autor da letra. Bizarro, como muitas coisas que envolvem o Scorpions. Toda a parte musical de "We'll Burn the Sky", no entanto, foi elaborada pelo guitarrista Rudolf Schenker, e não por Roth.

No final das contas, acho que "We'll Burn the Sky" é a melhor composição da história da banda. Mais completa, pelo menos.

Os pontos altos de "Taken by Force" consolidaram o peso na carreira do Scorpions, apesar de o grupo resolver mudar o direcionamento a partir do álbum seguinte. A coesão dos integrantes dessa formação, pela última vez, ajudou a reforçar a identidade da primeira banda alemã que chegou ao status de sucesso na história do rock.

No próximo "Há 30 anos", mais uma pérola do heavy rock, ainda não escolhida.

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