quinta-feira, 17 de janeiro de 2008

A ditadura do anti-merchandising (cont.)

Sem mais enrolações, vamos logo aos dois outro casos em que a Globo esconde marcas em seus veículos de comunicação.

Beleza sim; ajuda que é bom...

Na verdade, antes de contar a história, me inspirei em falar sobre esse assunto justamente quando eu vi um post na Laje de Imprensa, blog do amigo e ex-colega de Grande Prêmio Bruno Vicaria, relatando o absurdo que foi a revista Época, do grupo Globo, borrar os patrocinadores das gêmeas do nado sincronizado na capa de uma edição que continha um guia dos Jogos Pan-Americanos do Rio de Janeiro.

Pela foto não dá para ver direito, mas vi a capa da revista nas minhas mãos e constatei. Foi realmente um absurdo, como Bruno escreveu em julho passado. Porque é muito fácil você utilizar a imagem de duas meninas lindas, jovens e que as pessoas só começaram a ouvir falar no ano passado. A capa é estratégica até demais, se você olhar "por dentro" dela.

O fato é que Beatriz e Branca Feres ganharam muito destaque antes do Pan, visto que não eram favoritas no nado sincronizado. Foram votadas musas do Pan, entre outras bobagens. Mesmo que a beleza das meninas, de 19 anos, tenha ajudado na exposição delas, as duas são, antes de tudo, esportistas. E esportista que pretende seguir carreira olímpica precisa de um negócio fundamental chamado patrocínio.

Patrocínio esse que a Globo não fornece, o que eu acho correto. O problema é que só se arruma patrocinador com exposição na mídia. Os caras deram o dinheiro para elas disputarem campeonatos com base no que receberiam em retorno. Não que a Globo tenha que divulgar patrocinador dos outros, mas esconder assim nessa cara-de-pau? Eles estão usando a imagem delas!

As meninas, que com certeza não sabiam que isso aconteceria (acho que se fosse feito um acordo prévio, elas colocariam outro maiô sem nenhuma marca), foram as mais prejudicadas nessa história. Porque ajudaram, com certeza, a revista Época a vender muitos exemplares estampando suas imagens. Na hora de retribuir, apenas mantendo o nome daqueles que acreditaram nelas muito antes, nem pensar. Mas são duas carinhas bonitas para ficar na capa da revista.

A Época jogou o esporte no lixo, apenas explorando a imagem das duas gêmeas, que estão interessadas primeiramente no nado sincronizado e precisam de apoio para isso.

A Globo e o enquadramento "close-up no nariz"

O último caso diz respeito às transmissões de entrevistas coletivas de técnicos e jogadores de futebol, principalmente no canal Sportv. Esse é muito percebido por todos que gostam de futebol: o famoso close-up na cara das pessoas para não mostrar os patrocinadores dos clubes.

Apesar de que o mesmo raciocínio do caso das meninas pode ser aplicado aqui (os patrocinadores investem nos clubes para terem suas marcas expostas na mídia), a maior prejudicada aqui é a própria Globo. Afinal, não é nada agradável ver aquela cara expandida na tela inteira, escondendo boné, bancada, cadeira, microfone... às vezes eu tenho a impressão que o cameraman vai entrar no nariz da pessoa. E quando vemos isso naqueles telões de boteco? Dá até medo.

Enfim, a empresa mostra que o que importa é esconder a marca; qualidade fica em último plano. A emenda sai pior do que o soneto. Dá tontura ver aquelas imagens, e todo mundo sempre reclama. Se o telespectador é o que mais se incomoda com isso, por que a Globo continua com esse tipo de atitude? Será que eles não percebem que isso prejudica a própria emissora? Parece que não. Por isso que é tão bizarro.

Outro dia vi no Sportv uma matéria de pré-temporada de algum time europeu lá no Oriente Médio com um enquadramento bonito e todas as marcas aparecendo. As imagens eram da Reuters, claro. Não conheço nenhuma emissora que troque a qualidade de seu trabalho pelo anti-merchandising da Globo. Nem no Brasil e nem no exterior.

A Globo dos anos 1980 confundia o limite entre jornalismo opinativo e jornalismo mentiroso. Hoje em dia, confunde o jornalismo de conteúdo, que ela sabe fazer (e faz) tão bem, com seu Departamento de Marketing.

A conclusão que eu chego é de que a Globo, que se alinhou durante muitos anos à Ditadura Militar no Brasil, resolveu impor sua própria ditadura do anti-merchandising. E está feliz e satisfeita com ela.

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