segunda-feira, 25 de fevereiro de 2008

Tuvucanadá: Van Halen

Um grande valeu ao amigaço Eric Hodama, que conheci no Canadá e me forneceu as fotos (ele ficou em um lugar bem melhor do que o meu no show).

Irreverência, guitarras e Rock 'n' Roll

Por Marcelo Tuvuca Freire


Meu primeiro post no Rock Tales, grande idéia do amigo Bruno Vicaria, é sobre uma das minhas maiores e melhores experiências com o Rock 'n' Roll.

Em agosto do ano passado, o Van Halen anunciou que se reuniria com David Lee Roth, seu vocalista original. Seu último show com a banda havia sido na turnê do disco "1984", o clássico que continha Jump, Panama, Hot For Teacher, I'll Wait e outras grandes músicas.

Eu já planejava ir para Toronto em setembro, e quando descobri sobre o show tentei comprar o ingresso pela internet. Tinha conseguido isso com o Rush, que eu também presenciei em terras canadenses, mas não foi possível com o VH. No meu segundo dia em Toronto, fui à bilheteria do Air Canada Centre e consegui comprar. Era um péssimo lugar, ruim de assistir, mas pra ver Eddie e Diamond Dave juntos valia muito a pena.

Fui ao ACC para assistir ao show, bem diferente de como seria aqui. Lá, o público se empaturra de pipocas, hot-dogs e refrigerantes. Não existe confusão em relação a ingressos: você senta onde está marcado. Mas, diferentemente do que aconteceu no show do Rush que eu assisti (no mesmo Air Canada Centre), no VH a galera agitou bastante e cantou as músicas.

Nada comparado com o que aconteceria aqui, obviamente. Aliás, eles deveriam voltar para os brasileiros conferirem a nova formação (Eddie, Alex, David e Wolfgang Van Halen, filho de Eddie). Para quem não se lembra, o Van Halen tocou aqui em 1983, no ginásio do Ibirapuera, durante a turnê do disco "Diver Down".

Abaixo, está o review que eu escrevi para a revista Rock Brigade, publicado no mês de dezembro. Nele, estão todos os detalhes do show, inclusive set-list. Essa pequena apresentação foi apenas para ambientar o que foi vivenciado no ACC. O que o show me provou foi a necessidade de David Lee Roth voltar à banda.

Para mim, não interessa que o cara é um grande mala, nem que ele e Eddie não se suportam. Também não sei quanto tempo essa reunião vai durar. O que importa é que David claramente inspira Eddie a tirar o melhor de sua performance - e esse é um dos mais criativos guitarristas da história do Rock.

Outro ponto alto foi o set, baseado apenas nas músicas de David com a banda (1978-84). Eu adoro Sammy Hagar (que ficou no VH entre 1985 e 1996, voltando para uma turnê em 2004), mas acho que o fato de o "Red Rocker" não cantar muitas músicas da época de Roth fez com que Eddie sentisse muita falta de tocar esse material. Afinal, foram essas canções que fizeram a banda estourar no mundo inteiro. Dava pra ver o tesão na cara do guitarrista, empolgadaço, dedilhando a maravilhosa Ì'm the One, do primeiro disco.

O show foi realmente inesquecível, um dos melhores que eu já assisti. A banda esteve (quase) perfeita, e o set foi inacreditável. Mas isso eu deixo para vocês lerem no review.

Um abraço a todos.

Van Halen – Air Canada Centre, Toronto 7/10/2007

Review por Marcelo Freire

Quando os irmãos Van Halen anunciaram uma reunião com David Lee Roth, em agosto deste ano, a primeira pergunta que todos fizeram foi: será que desta vez rola mesmo?

Desde que Sammy Hagar saiu da banda, em 1996, uma possível turnê com seu vocalista original sempre é cogitada. Nesse meio tempo, Gary Cherone, ex-Extreme, entrou e foi demitido do grupo, que depois saiu em turnê com o próprio Hagar durante alguns meses, em 2004, até as brigas entre os integrantes cancelarem os planos da banda. Dessa maneira, a volta (até o momento provisória) de David Lee ao Van Halen não é exatamente uma surpresa.

A surpresa maior ficou por conta do desprezo dos irmãos por Michael Anthony, baixista da banda desde 1974. Em seu lugar, o guitarrista e o baterista trouxeram ninguém menos que o filho de Eddie, Wolfgang Van Halen, de apenas 16 anos. É nesse contexto que o Van Halen sobe ao palco do lotado Air Canada Centre, em Toronto, para dar início ao quarto show desta turnê.


Eddie entra sorridente, pulando e desferindo o riff de You Really Got Me, para delírio do público canadense. David aparece agitando uma bandeira vermelha, no fundo do palco. A performance da banda é empolgante, assim como o abraço entre David Lee e Eddie ao final da canção.

O set-list, logicamente, inclui apenas músicas da fase inicial do grupo norte-americano, até 1984. O show prossegue com I'm the One e Runnin' With the Devil, e Roth prova que ainda está em ótima forma. Mas o destaque mesmo é Eddie Van Halen. Ele pode ser controverso, mas quando está no palco se transforma em um deus da guitarra. Mais importante, parece tocar como se fosse seu último show, no alto de seus 52 anos. O guitarrista transmite para a platéia toda essa energia, distribuindo sorrisos, como se estivesse fora dos palcos há duas décadas.
A banda continua despejando seus hits com Romeo Delight (música de abertura da única turnê da banda por terras brasileiras, em 1983), a energética Somebody Get me a Doctor (um dos melhores riffs já compostos por Eddie), Beautiful Girls e a 'alegre' Dance the Night Away, muito bem-recebida pela platéia.


Nesse momento, já era possível notar que a química entre Eddie e David está sempre acesa, mesmo que os dois estejam bem longe de ser grandes amigos. Roth completa como ninguém a performance agitada e cheia de energia de Eddie. Apesar disso, o vocalista demonstra uma certa comodidade no palco, se poupando em algumas músicas. Sua performance, na verdade, se assemelha muito àquela do festival Live' n' Louder de 2006, em São Paulo. Mesmo assim, David Lee Roth sabe hipnotizar a platéia e deixá-la em suas mãos durante todo o tempo.

Após a banda tocar Atomic Punk, pérola do primeiro disco, o vocalista mostra suas habilidades sonoras ao imitar o som de uma moto com a sua boca, 'duelando' com Eddie Van Halen em Everybody Wants Some. O grupo segue o set-list –muito bem escolhido e estruturado, por sinal– com So This is Love?, Mean Streets e (Oh) Pretty Woman, levantando o público com um cover que todos conhecem. Ao final da música, é a vez de Alex Van Halen demonstrar suas habilidades, executando um solo de bateria simples e não muito longo, mas de ótimo gosto.


Unchained é a próxima, e David, como de costume, mais grita do que canta tal música, deixando grande parte das letras para pai e filho Van Halen, que fazem os backing vocals. E eles não decepcionam, demonstrando afinação e fidelidade às versões de estúdio. Se compararmos a performance do Van Halen do início da década de 1980 com a desta turnê, nota-se que os backing vocals melhoraram consideravelmente.

A balada I'll Wait tranquiliza um pouco o ambiente antes de And the Cradle Will Rock, talvez a música mais bem executada do show, pesada e muito fiel à versão original. É a vez de Hot for Teacher levantar o público, seguida por Little Dreamer, Little Guitars, Jamie's Crying e Ice Cream Man.

Com o show chegando à sua parte final, é preciso analisar a performance do 'moleque' Wolfgang Van Halen. Primeiro, é claro que Michael Anthony faz muita falta para o grupo. O baixista, sempre em segundo plano, ajudou a criar a imagem e o estilo do Van Halen durante os 30 anos de existência da banda. Com apenas 16 anos, esse é um fardo que Wolfgang precisa superar. Ele ainda é inseguro e tímido no palco, sem saber direito onde ficar. Mas não cometeu erros e sempre olhava o pai como exemplo, literalmente, indo atrás de Eddie durante a apresentação.

O guitarrista busca dar moral para o filho, 'duelando' e fazendo brincadeiras com Wolfgang. De qualquer maneira, é muito estranho ver um show do Van Halen sem Michael Anthony no palco. Depois de Ice Cream Man, a banda inicia um de seus maiores clássicos, Panama, que deixa todos em pé antes do solo de Eddie. O guitarrista se joga no chão (sem a agilidade de outros tempos, obviamente), executa trechos de músicas instrumentais (sendo Eruption a mais fácil de se reconhecer) e lança um sonoro "we're a fuckin' band now!" antes de Ain't Talkin' 'Bout Love, outro clássico que faz todos no Air Canada Centre cantarem.

Após o vigésimo abraço entre David e Eddie, a banda se despede antes de voltar para o bis. Logo depois, ouve-se a introdução 1984, que esquenta o ambiente para Jump, maior hit da banda em sua história. Confetes caem sob o público e David Lee Roth 'chama' a platéia para cantar com um gigante microfone inflável. O vocalista ainda demonstra suas habilidades no kung-fu, fazendo malabarismos com um bastão durante o solo de teclado de Jump.

Ao final da apresentação, enquanto todos saíam do Air Canada Centre com um sorriso 'colado' no rosto, vêm as perguntas. Até quando essa reunião vai durar? Será que os irmãos Van Halen, famosos pelo temperamento complicado, aguentarão o imprevísivel e inconseqüente David Lee Roth por muito tempo? Existem planos para um novo disco de estúdio? Teria Michael Anthony espaço nessa nova encarnação da banda?

Nada disso pode ser respondido ainda. Mas uma coisa é certa: a equação Eddie Van Halen + David Lee Roth é igual a Van Halen. Roth tem o espírito boêmio, irreverente e festeiro do grupo, e Eddie reconhece isso. Resta saber por quanto tempo a lua-de-mel vai durar.

Um comentário:

Anônimo disse...

Olá, eu também estava lá nesse dia. Foi meu presente de aniversário.