sexta-feira, 14 de dezembro de 2007

Tuvucanadá - Rush, Parte 1 (review)

Logo na minha segunda semana em Toronto, lá estava eu para ver a banda que eu acho mais talentosa, criativa e coesa (resumindo: minha favorita) banda do Rock 'n' Roll: o Rush.

Quando já tinha decidido estudar um tempo em Toronto, mas antes de fechar a viagem, descobri que Geddy Lee, Alex Lifeson e Neil Peart tocariam em sua cidade-natal nos dias 19 e 22 de setembro para a turnê de divulgação de seu novo disco, Snakes and Arrows. Pensei: vou nessa.

Seria meu segundo show do Rush. O primeiro foi em São Paulo, na turnê do Vapor Trails em 22 de setembro de 2002. Aliás, foi no estádio do Morumbi, naquela noite chuvosa, que minha admiração pelo trio torontoniano virou paixão.

Um dia explico porque o Rush é a minha banda preferida. Mas voltando à história, comprei o ingresso pela internet para o show do dia 22 e tentei convencer alguma revista brasileira a publicar um texto meu sobre o evento. A Rock Brigade aceitou (está na edição de novembro, ao lado do meu review sobre a reunião do Van Halen com David Lee Roth, cuja história eu conto mais para frente).

No dia 19, estava perto do Air Canada Centre, onde seria a apresentação, e passei pela frente do local. Lá, descobri que na sexta-feira, um dia antes do show que eu iria, o fã-clube da banda estava divulgando o Rushcon 7, uma reunião de aficionados do Rush que começava no sábado e terminava no domingo.

Contarei em detalhes como foi esse fim-de-semana rushento de festas, leilões, entrevista para documentário e muito Rock 'n' Roll, nos próximos dias. Por enquanto, fiquem com o review que eu escrevi sobre o show e umas fotos tiradas pelo japonês Seiji Harada (que eu conheci na Rushcon e me cedeu gentilmente as figuras, que também foram para a revista). Eu estava em um lugar péssimo, por isso as minhas fotos não foram muito aproveitáveis.


Rush – Air Canada Centre, Toronto – 22/09/07

Por Marcelo Freire

Depois de assistir à turnê do Rush no Brasil, em 2002, que rendeu o histórico DVD “Rush in Rio”, presenciar o trio canadense em sua cidade natal para a promoção do disco “Snakes and Arrows” é uma experiência certamente diferente. O Air Canada Centre, palco de jogos de hóquei e da NBA, estava praticamente lotado para ver o segundo show do Rush em Toronto nessa turnê (a primeira apresentação foi na quarta-feira, 19), com um set-list que prometia muitas surpresas.


Um vídeo descontraído, contando com brincadeiras entre os integrantes da banda, esquentou o ambiente até que as primeiras notas da clássica Limelight fossem ouvidas no ginásio. O trio mostrava a coesão de sempre logo na música de abertura, enquanto que o público canadense, como já era esperado, assistiam a Lee, Lifeson e Peart com tranqüilidade, sem os gritos e a histeria dos shows em terras brasileiras. Mesmo assim, os mais de 30 mil pagantes não tiravam os olhos dos três instrumentistas em nenhum momento.

As duas músicas seguintes confirmavam a promessa da banda em executar canções que estavam fora do set-list das turnês há bastante tempo. Digital Man e Entre Nous, ambas do início da década de 1980, surpreenderam todos os presentes, principalmente aqueles que acompanham as apresentações do Rush desde essa época.

Geddy Lee saúda seus contêrraneos antes da pérola Mission, outra que estava ‘sumida’ dos shows. Após o clássico Freewill, Lee, Lifeson e Peart iniciam a execução de músicas mais recentes, como A Secret Touch, de “Vapor Trails”(2002) e duas do novo disco, a instrumental The Main Monkey Business e The Larger Bowl, cujo vídeo exibido no telão fez diversas referências aos combates e às guerras em diversas partes do mundo.

Circumstances, de 1978, foi talvez a maior de todas as surpresas, pois é da época mais progressiva do Rush, durante o disco “Hemispheres”. E é curioso ver como Geddy Lee se comporta durante a execução da canção, que tem notas altas demais para o vocalista nos dias de hoje. Mesmo assim, ele não arrega, sabendo de suas limitações nas notas mais altas e se poupando nas melodias mais tranqüilas. Between the Wheels e Dreamline encerram a primeira parte do show, antes dos tradicionais 20 minutos de descanso para Lee, Lifeson e Peart.

No aspecto instrumental, é praticamente desnecessário mencionar a habilidade de cada um. A precisão de Neil, a versatilidade de Geddy e a criatividade de Alex, aliadas à capacidade e ao conhecimento técnico de cada um, é sempre um show à parte. Alguns overdubs de teclado e voz são necessários, mas o resto fica a cargo pelos três no palco. Quanto à interação com a platéia, Alex é o que mais se movimenta, já que Geddy fica com o espaço mais limitado como vocalista, baixista e tecladista, sem deixar de se comunicar com a platéia, no entanto. Mesmo demonstrando 100% de concentração durante todo o tempo, Neil Peart também está mais descontraído, principalmente em relação à epoca de “Vapor Trails”, quando ainda se recuperava de uma grande tragédia pessoal após a morte da esposa e da filha em um espaço de apenas 10 meses, no final da década de 1990.



Em meio a explosões, o Rush volta ao palco para a segunda metade do show detonando Far Cry, canção que abre “Snakes and Arrows” e que é muito bem recebida pela platéia, contendo todos os requisitos para se tornar um clássico da banda em sua fase mais recente, principalmente por causa de seu refrão contagiante. Workin’ Them Angels, Armor and Sword, Spindrift e The Way the Wind Blows vêm em seguida, dando uma certa esfriada no público. Mesmo assim, todas funcionam melhor ao vivo do que em estúdio, como normalmente acontece com as canções do Rush.

A clássica Subdivisions, cujo videoclipe gravado em 1982 exibe diversas imagens de Toronto, volta a levantar o público, registrado pelo próprio Geddy Lee, que pega uma câmera e filma a platéia ao final da música. Depois de Natural Science, a música mais longa do set-list, vem outro ‘resgate’, dessa vez de “Moving Pictures”(1981): Witch Hunt, muito bem ensaiada e deixando parte do público emocionado com uma das mais belas letras já escritas por Neil Peart. As imagens no telão, produzidas pela banda, também se relacionam com a canção.

“Snakes and Arrows” volta a ter espaco no set, desta vez com a instrumental Malignant Narcissism, composta durante uma jam entre Lee e Peart e marcada por uma excelente e repetitiva frase de baixo. Logo em seguida, Neil toma a frente e inicia seu concerto particular. Não se contenta apenas em demonstrar a habilidade que o transformou em um dos maiores bateristas de todos os tempos, mas também inova seu solo a cada turnê, trazendo novos elementos e reinventando passagens já conhecidas em outros discos ao vivo da banda. Como aconteceu nas duas últimas turnês, Neil encerra sua apresentação improvisando ao som de um tema jazz, como baterista de uma ‘big band’ dos anos 50.

Ao contrário da versao acústica de Resist, tocada nos últimos anos como ‘descanso’ para Peart após o solo de bateria, Alex Lifeson volta ao palco para apresentar seu belo tema de violão, chamado Hope, também presente em “Snakes and Arrows”. Distant Early Warning traz a banda de volta e abre espaco para The Spirit of Radio, sempre levantando a platéia com a mistura de elementos pop/reggae com a complexidade rítmica da canção, um dos maiores hits da história do Rush, ainda mais em sua terra natal.

Outro vídeo muito engraçado, desta vez com os personagens do desenho South Park tocando o início de Tom Sawyer, aparece no telão. Após ‘falharem’ na primeira tentativa, as ‘crianças’ do desenho abrem nova contagem e desta vez é a banda que executa a música, sempre com maestria. Alguns deixam o Air Canada Centre e perdem o bis, que começa, surpreendentemente, com One Little Victory e A Passage to Bangkoc. Esta é praticamente uma viagem no tempo, já que a primeira canção abre “Vapor Trails” e a segunda é a mais antiga do show, tendo sido gravada em 1976, adaptada ao estilo da banda nos dias atuais.

A terceira instrumental da noite encerra o espetáculo: YYZ, demonstrando o quanto Lee, Lifeson e Peart, ainda têm para entregar ao rock`n`roll após 33 anos juntos. O grupo ainda deixa sua mensagem ao tocar muitas músicas novas, além das antigas que ‘desapareceram’ dos shows nos últimos 20 anos. Os fãs que lotaram o Air Canada Centre nas duas noites saíram deslumbrados com mais essa passagem do Rush por sua cidade natal. Falta saber se os boatos ouvidos aqui em Toronto, de que o trio planeja uma passagem pela América do Sul no ano que vem, com uma parada obrigatória no Brasil, se confirmem. Os brasileiros não se decepcionarão.


Veja aqui as outras cinco partes da jornada:

Tuvucanadá - Rush, Parte Final

Tuvucanadá - Rush, Parte 5 (o show)

Tuvucanadá - Rush, Parte 4

Tuvucanadá - Rush, Parte 3

Tuvucanadá - Rush, Parte 2

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